quinta-feira, 8 de outubro de 2015

Madonna revela em entrevista que pensa em fazer um show só com banquinho, violão e contando piadas!

O site da revista Rolling Stone publicou uma entrevista inédita com Madonna após feita durante os primeiros shows da Rebel Heart Tour nos Estados Unidos e Canadá. Ela revelou curiosidades sobre o processo criativo do novo show, de religião e sexo, como se vê numa próxima turnê daqui 10 anos e que adoraria tomar chá com o Papa.

Confira:

Em que ponto durante a gravação de Rebel Heart você começou a criar ideias para esta turnê?
O período de finalização do meu último álbum foi de pânico e muita pressão por causa de todos aqueles vazamentos, então eu só comecei a realmente pensar sobre o meu show ao vivo depois que o disco foi lançado e comecei a gravar clipes e fazer shows promocionais. Honestamente, eu realmente só sentei e comecei a pensar com detalhes sobre a turnê no final de março passado. Isso é incomum para mim, porque costumo começar a pensar sobre meus projetos com bastante antecedência.

Uma vez que você finalmente começou a criar a turnê, quais objetivos você tinha em mente?
Meus objetivos são sempre os mesmos. Eu quero levar as pessoas numa viagem. Gosto de explorar temas. Acredito que se você vai se apresentar um grande espaço, como uma arena de esportes ou um estádio, você precisa apresentar um tipo de entretenimento que estimule todos os sentidos. Não acho que seja suficiente apenas estar no palco e cantar. Acho que há momentos específicos para isso, mas ao mesmo tempo sou uma pessoa muito visual. Eu fui treinada como dançarina, então esses tipos de estímulos são realmente importantes para mim. Nos meus shows, pelo menos. Acredito que quando o público vai a um show meu, eles entram em um mundo mágico e são transportados por duas horas para outro tempo e lugar. Eles conectam seus cérebros à matriz do meu cérebro criativo que, em geral, explora e expressa todas as coisas que despertam meu interesse e me inspiram de alguma forma. Esse é sempre o meu objetivo. Claro, isso muda entre um álbum e outro, uma turnê e outra, dependendo do meu humor e dos temas que quero apresentar.

Quais são os temas principais desta turnê?
A primeira mensagem é sobre força e capacitação, e usamos a música Iconic na abertura. Ela fala sobre sermos guerreiros e lutarmos por aquilo em que acreditamos, reconhecendo que todos têm a capacidade de ser icônicos, cada um do seu jeito. É sobre ser um guerreiro e brilhar. Além disso, estou honrada de ter a participação de Mike Tyson na música e no vídeo, porque eu realmente me espelho nele e o admiro como uma pessoa que passou pelos altos e baixos da vida, que atravessou fogueiras e enfrentou a escuridão. Para mim, ele se transformou em um ser humano no qual devemos nos espelhar e nos inspirar.
Esse seria o primeiro tema. Já Devil Pray é uma canção sobre cair na ilusão de que álcool e maconha podem te dar acesso a uma espécie de mundo superior, por assim dizer, ou que podem deixá-lo mais perto de Deus. De fato, eles podem. Mas acho que, no fim das contas, é tudo uma ilusão.
Como eu disse, eu não pulo de um tema para outro, simplesmente. Temos que embarcar em uma jornada. Começamos como guerreiros, e em seguida exploramos temas como sexo e religião, porque são assuntos que, em nossa sociedade, estão sempre separados. Para mim, o sexo é uma dádiva sagrada que nos foi dada para que possamos explorá-lo e brincar com ele. Eu gosto de provocar as pessoas com os conceitos de sexo e com o ponto de vista da religião sobre esse assunto. Isso é porque eu acredito que as pessoas precisam ser desafiadas a pensar, mesmo que elas não concordem comigo. Tudo bem elas não concordarem comigo. Mas eu não vou simplesmente fazer um show canção-por-canção. Nós estaremos lá juntos por duas horas!

Que tal você me dizer sobre seu processo para escolher quais músicas antigas colocar no set list? Isso, com certeza, não deve ser fácil.
Isso é muito, muito difícil. Basicamente, eu estudo todo meu catálogo de canções, que é bastante extenso e, uma vez que eu tenho uma ideia dos temas que quero explorar, divido o show em quatro blocos e tento encontrar maneiras de entrelaçar as minhas músicas antigas com as novas. Em geral, elas têm a ver com os temas. Por esse motivo, tentamos várias canções e muitas delas não funcionam. Então, tentamos coisas que eu nunca imaginaria que funcionariam, mas que funcionam. É um processo muito, muito longo. Para mim, este é o maior desafio: casar o velho com o novo. Porque, obviamente, escrevi aquelas canções há muito tempo, e tenho que reinventá-las de forma que elas signifiquem algo para mim agora em contraponto ao que elas significaram para a mulher que eu era há 30 anos.

Eu sempre admirei isso nos seus shows. Seria tão fácil você simplesmente tocar seus 15 maiores hits e manter os arranjos originais, mas você nunca tomou esse caminho mais fácil.
Não. E eu simplesmente não poderia fazer isso, de qualquer maneira. Eu não conseguiria fazer isso.

Você poderia explicar por quê?
Porque eu mudei, e as sonoridades mudaram. O som de um sintetizador ou de um 808 [drum machine] … Tudo mudou muito. Se você colocar a canção antiga original ao lado de algo novo, ela soará simplista e fraca. Você sabe o que eu quero dizer? Elas simplesmente não podem viver juntas.

True Blue foi realmente um grande momento do show, por você tê-la desconstruído daquele jeito.
Sim. Eu adoro cantar True Blue e La Vie En Rose. Eu me divirto com elas, porque há algo de ingênuo e doce ao cantar uma música com um ukulele.

Você é novata nesse instrumento?
Oh, Deus, sim [risos]. Eu sou péssima com o ukulele, basicamente. As progressões de acordes são completamente diferentes das de um violão, por isso não é algo que eu possa tocar naturalmente, sem pensar. Então tenho que me desafiar constantemente. É um desafio para mim toda noite, porque um “G“ em um ukulele não se parece com um “G” em um violão. É um pouco complicado. Tem que prestar atenção.

Diga-me como você se prepara fisicamente para a turnê. Você fará mais de 80 shows nos próximos meses. Isso exige, no mínimo, bastante preparo físico.
Sim. Isso é verdade, mas tenho que admitir que não tive tanto tempo para treinar e me preparar fisicamente para esta turnê como tive no passado com outras turnês. Isso é porque eu tenho quatro filhos, e eles ocupam muito do meu tempo. Então, eu tenho que escolher entre malhar e passar tempo com eles, e, ao mesmo tempo, preparar o meu show. Eu tenho que encontrar o equilíbrio entre me preparar fisicamente o suficiente para não ficar sem fôlego no palco, mas também não me esgotar fisicamente, e também estar com meus filhos. A lista é longa e interminável…

Existe algo sobre o processo criativo de um show ao vivo que você não encontra ao fazer um filme ou gravar um álbum?
Bem, não há nada como um show ao vivo, obviamente. Viver no limite, exposta, sem nunca saber o que vai acontecer, é uma situação perigosa. Você comete erros, e tem que lidar imediatemente com aqueles erros. Você sabe, cada público é diferente. Eu amo quando o público está vivo e brinca comigo, como foi no Brooklyn. As pessoas entendem meu senso de humor e posso interagir com elas, tanto musicalmente quanto apenas conversando.
Quando você faz o mesmo show noite após noite, você tem que concentrar toda sua energia e se preparar para ser esta força da natureza que toma conta de uma arena inteira. Isso dá muito trabalho. E em seguida você tem que descompressar toda essa energia, o que também dá muito trabalho. Então, nada se compara a isso.
Para mim, quando você está no palco, não há como trapacear. Simplesmente não há como enganar. Quando você está no estúdio, você pode fazer outras tomadas, você pode consertar as coisas, você pode voltar atrás e sintonizar seus vocais. Quando você está fazendo um filme, você pode recorrer à edição, você pode consertar as coisas durante a pós-produção. Ou seja, não é ao vivo. Já um show é um mundo totalmente diferente.

Você se vê fazendo turnês daqui a 10, 15 anos?
Eu nem sequer penso assim com tanta antecedência, mas se pudesse me ver viajando pelo mundo com uma turnê e me conectando com o público no futuro, tenho certeza de que seria algo bem diferente dos musicais extravagantes que faço agora.

Você acha que poderia gostar de um show mais enxuto, só com você e uma pequena banda, sem toda a produção?
Eu gosto bastante da ideia de ficar simplesmente sentada em um banquinho com uma garrafa de vinho e um violão e incorporar meu “stand-up comedy” na apresentação. Gosto de falar com o público, contar histórias. Eu acho que poderia fazer um espetáculo interessante, para dizer a verdade. Eu gosto bastante da ideia de fazer algo simples.

Esta é a sua sexta turnê nos anos 2000. Parte do desafio deve ser encontrar maneiras de se superar, visto que você já fez tantas coisas diferentes.
Eu não penso nisso como um desafio de “me superar”. É como fazer um filme, e, em seguida, um outro filme. Você não precisa se superar. É apenas uma história diferente que você tem que contar. Eu trabalho com um monte de cineastas e figurinistas e coreógrafos e bailarinos, por isso as turnês sempre serão diferentes.

Esta equipe de dançarinos é surpreendente. Parecia que eles eram capazes de fazer qualquer coisa.
Sim, eles são maravilhoso, super talentosos e originais. Eu sempre digo aos meus bailarinos que eles são atores, eles não são dançarinos, e que muito vai ser esperado deles. Eu sempre digo a palavra “intenção”. Eu não balanço meus braços simplesmente por balançar. “Por que você está fazendo isso? O que você está tentando dizer?” Acho que é isso que faz com que meus shows sejam diferentes dos demais.

É uma coincidência engraçada que você e o Papa estão passando pelas mesmas cidades esta semana.
[Risos] É divertido, sim. Estou torcendo para que a gente se esbarre.

Você falou bastante sobre ele no show. Você é uma fã?
Eu tenho um longo relacionamento com o Papa, com o Vaticano, com a Igreja Católica, com a minha excomunhão. Você sabe, eu fui criada católica e não importa o caminho espiritual que eu siga, eu sempre sinto algum tipo de conexão inexplicável com o catolicismo. É o tipo de coisa que se revela em todo o meu trabalho, como você deve ter notado.

Você está feliz com a direção para a qual este Papa está levando a igreja?
Vou dizer o óbvio e afirmar que ele parece ser um indivíduo de mente bem mais aberta, que parece estar se distanciando dos dogmas da Igreja Católica que foram definidos desde os tempos de Constantino. Então, eu acho que isso é bom. É bom olhar para o mundo lá fora e perceber que nós mudamos e que no fim das contas a mensagem de Jesus é amar o próximo como a si mesmo, o que significa não julgar o próximo. E, para fazer isso, você tem que ser uma pessoa de mente aberta e aceitar as pessoas têm estilos de vida que você considera não convencionais. Então, eu acho que isso é bom, sim. Além disso, eu acredito que ele é o tipo de Papa com quem você poderia sentar e tomar uma xícara de chá e que você poderia fazer uma piada sobre algo e ele iria rir sobre isso.

É engraçado lembrar da Blond Ambition Tour, quando o Papa tentou impedir que você fizesse seu show em Roma.
Sim, ele tentou mesmo. Mas os tempos mudaram tanto, de tantas maneiras, e não apenas o Papa.

Você acha que ele iria gostar do seu show?
Eu acho que sim, porque no fim das contas a mensagem do meu show é sobre o amor e essa também é a mensagem dele.