É
seguro dizer que o boom de adaptações literárias passou quando falamos de obras
de fantasia. Após a explosão do gênero na época de Harry Potter, O
Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia, muitas apostas não
vingaram comercialmente, a quantidade caiu, mas vez ou outra alguma adaptação
surge promissora, como é o caso da Netflix com Sombra e Ossos.
Inspirada nos livros de Leigh Bardugo, a série acerta bastante ao ter
personagens carismáticos e apresentar um universo rico de mitologia.
Sombra
e Ossos consegue ser cativante com
uma estrutura simples, que lembra bastante as obras citadas acima. Na trama, a
jovem Alina Starkov (Jessie Mei Li) tenta viver uma vida comum como
cartógrafa desse mundo fantástico, até que descobre ser uma Grisha: uma pessoa
capaz de executar a Pequena Ciência e controlar e alterar algum tipo de
elemento. Mas enquanto outros Grishas controlam coisas como água, fogo e ar,
Alina descobre ser uma Conjuradora do Sol, um tipo muito raro de Grisha que a
eleva ao status de “santa” dentro da história. Daí pra frente, acontece a
famosa Jornada do Herói: ela é tirada de seu lugar comum, passa por uma
provação, tem a perda do mentor, a volta para casa, etc.
A
adaptação da Netflix não inova em seu formato, mas traz algo que estava
fazendo falta há algum tempo dentro do gênero: personagens cativantes em um
universo cheio de coisas para descobrir. A série não perde tempo com muitas
explicações e vai direto ao ponto, escolhendo mostrar toda a complexidade do
chamado Grishaverso aos poucos. Talvez esse ritmo deixe alguns espectadores
mais confusos com algumas especificidades, mas, ao fazer isso, o seriado também
aguça a curiosidade, já que cada um dos oito episódios da primeira temporada
apresenta algo novo, tornando a produção um prato cheio para quem gosta de
mergulhar em histórias fantásticas.
Combinado
a isso, a série acerta muito em seus protagonistas, começando por Alina,
interpretada por Jessie Mei Li. A jovem é extremamente carismática e
responde por grande parte do nosso potencial apego à história: rapidamente nos
importamos com ela e nos preocupamos com o que vai acontecer em seguida. A
relação da jovem com Mal (Archie Renaux), seu amigo de infância, também
é muito bem construída com flashbacks e interações verdadeiras - assim como a
protagonista, não vemos a hora que o reencontro entre os dois aconteça. Também
vale elogiar a atuação de Ben Barnes (que começou o sucesso como ator
justamente em As Crônicas de Nárnia) como o General Kirigan. Por vezes o
ator chega perto de tornar seu personagem um vilão caricato, mas nunca
ultrapassa essa barreira, entregando um anti-herói complexo com uma grande presença
de cena.
Fantasia
Moderna
Sombra
e Ossos é situada em um mundo
fantástico, e exatamente por isso é muito positivo ver que a produção tem
representatividade no elenco e nos personagens. Enquanto muitas produções do
gênero escolhem o caminho de ter apenas atores brancos em seu elenco, o seriado
da Netflix aproveita a diversidade da trama e dos personagens criados
por Leigh Bardugo para ter pessoas diversas no elenco - algo que ressoa
também com a história, que mostra Alina sofrendo alguns preconceitos por ser de
uma etnia diferente e também explora o “medo” que as pessoas sentem dos Grishas
por eles serem diferentes.
A
primeira temporada evolui em seus episódios finais, algo que ressoa com a
evolução da própria Alina. Enquanto em um primeiro momento ela parece muito
certa do papel que está cumprindo naquela história, eventualmente ela entende
que nem tudo é o que parece ser e até o público começa a duvidar da índole dos
personagens apresentados. Sombra e Ossos gera dúvidas sobre em quem
confiar e mostra como os erros fizeram a protagonista amadurecer durante a
jornada do primeiro ano.
Com
uma franquia de livros disponível para ganhar vida (a Trilogia Grisha conta com
mais duas publicações e a autora escreveu ainda duas séries derivadas e cinco
contos), Sombra e Ossos termina deixando um esperado gancho para sua
segunda temporada. Ainda é um mistério se a Netflix vai apostar em uma
renovação - levando em consideração que o valor de produção parece ser alto
pela quantidade de efeitos visuais que demonstram os poderes Grishas, o design
de produção e os figurinos - , mas o primeiro ano foi um ótimo passo para o
streaming começar uma franquia de fantasia que tem uma mitologia e personagens
riquíssimos para explorar.
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