quinta-feira, 9 de fevereiro de 2023

Netflix apresenta universo cativante com adaptação de Sombra e Ossos

 

É seguro dizer que o boom de adaptações literárias passou quando falamos de obras de fantasia. Após a explosão do gênero na época de Harry Potter, O Senhor dos Anéis e As Crônicas de Nárnia, muitas apostas não vingaram comercialmente, a quantidade caiu, mas vez ou outra alguma adaptação surge promissora, como é o caso da Netflix com Sombra e Ossos. Inspirada nos livros de Leigh Bardugo, a série acerta bastante ao ter personagens carismáticos e apresentar um universo rico de mitologia.

Sombra e Ossos consegue ser cativante com uma estrutura simples, que lembra bastante as obras citadas acima. Na trama, a jovem Alina Starkov (Jessie Mei Li) tenta viver uma vida comum como cartógrafa desse mundo fantástico, até que descobre ser uma Grisha: uma pessoa capaz de executar a Pequena Ciência e controlar e alterar algum tipo de elemento. Mas enquanto outros Grishas controlam coisas como água, fogo e ar, Alina descobre ser uma Conjuradora do Sol, um tipo muito raro de Grisha que a eleva ao status de “santa” dentro da história. Daí pra frente, acontece a famosa Jornada do Herói: ela é tirada de seu lugar comum, passa por uma provação, tem a perda do mentor, a volta para casa, etc.

A adaptação da Netflix não inova em seu formato, mas traz algo que estava fazendo falta há algum tempo dentro do gênero: personagens cativantes em um universo cheio de coisas para descobrir. A série não perde tempo com muitas explicações e vai direto ao ponto, escolhendo mostrar toda a complexidade do chamado Grishaverso aos poucos. Talvez esse ritmo deixe alguns espectadores mais confusos com algumas especificidades, mas, ao fazer isso, o seriado também aguça a curiosidade, já que cada um dos oito episódios da primeira temporada apresenta algo novo, tornando a produção um prato cheio para quem gosta de mergulhar em histórias fantásticas.

Combinado a isso, a série acerta muito em seus protagonistas, começando por Alina, interpretada por Jessie Mei Li. A jovem é extremamente carismática e responde por grande parte do nosso potencial apego à história: rapidamente nos importamos com ela e nos preocupamos com o que vai acontecer em seguida. A relação da jovem com Mal (Archie Renaux), seu amigo de infância, também é muito bem construída com flashbacks e interações verdadeiras - assim como a protagonista, não vemos a hora que o reencontro entre os dois aconteça. Também vale elogiar a atuação de Ben Barnes (que começou o sucesso como ator justamente em As Crônicas de Nárnia) como o General Kirigan. Por vezes o ator chega perto de tornar seu personagem um vilão caricato, mas nunca ultrapassa essa barreira, entregando um anti-herói complexo com uma grande presença de cena.

Fantasia Moderna

Sombra e Ossos é situada em um mundo fantástico, e exatamente por isso é muito positivo ver que a produção tem representatividade no elenco e nos personagens. Enquanto muitas produções do gênero escolhem o caminho de ter apenas atores brancos em seu elenco, o seriado da Netflix aproveita a diversidade da trama e dos personagens criados por Leigh Bardugo para ter pessoas diversas no elenco - algo que ressoa também com a história, que mostra Alina sofrendo alguns preconceitos por ser de uma etnia diferente e também explora o “medo” que as pessoas sentem dos Grishas por eles serem diferentes.

A primeira temporada evolui em seus episódios finais, algo que ressoa com a evolução da própria Alina. Enquanto em um primeiro momento ela parece muito certa do papel que está cumprindo naquela história, eventualmente ela entende que nem tudo é o que parece ser e até o público começa a duvidar da índole dos personagens apresentados. Sombra e Ossos gera dúvidas sobre em quem confiar e mostra como os erros fizeram a protagonista amadurecer durante a jornada do primeiro ano.

Com uma franquia de livros disponível para ganhar vida (a Trilogia Grisha conta com mais duas publicações e a autora escreveu ainda duas séries derivadas e cinco contos), Sombra e Ossos termina deixando um esperado gancho para sua segunda temporada. Ainda é um mistério se a Netflix vai apostar em uma renovação - levando em consideração que o valor de produção parece ser alto pela quantidade de efeitos visuais que demonstram os poderes Grishas, o design de produção e os figurinos - , mas o primeiro ano foi um ótimo passo para o streaming começar uma franquia de fantasia que tem uma mitologia e personagens riquíssimos para explorar.

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