Letícia Sabatella é um verdadeiro poço de cultura e sabedoria, por isso
talvez não exista uma atriz melhor escalada para interpretar a deputada honesta
e humanista no novíssimo longa de comédia dramática Happy Hour – Verdades e Consequências, com direção de Eduardo Albergaria, que chegou às salas
de cinema na última quinta (28).
Envolvida
com a militância política, ela revela que se espelhou em dois grandes símbolos
femininos para compor sua personagem Vera.
“Me inspirei em Luiza Erundina a Marielle
Franco. Também há mulheres fortes que me inspiraram um pouco, intuitivamente.
Eu me sinto no dever de ser uma cidadã comum quando se trata de se posicionar
politicamente. Ao mesmo tempo, há um foco em mim e eu conduzo à direção do
olhar para causas necessárias. Por isso me posiciono honestamente para
estimular também outras pessoas a participarem”, explica.
Na
trama, a deputada está em vias de concorrer à prefeitura de sua cidade e é
casada com Horácio, um professor argentino – estrelado pelo ator argentino Pablo Echarri – com quem tem um filho.
Ela leva um choque quando recebe a proposta do marido de abrir o casamento.
Sobre este tema, Letícia opina que este é um assunto bem delicado.
“De todo modo, é importante enxergar nossa
humanidade, nossos desejos, e fazer escolhas com responsabilidade para com o
afeto construído na relação, respeitando os limites dos envolvidos. É complexo,
mas reconheço que não existe casamento imaculado, ideal, nem uma fórmula que se
possa aplicar a todo mundo.”
Horácio
faz esta proposta para a mulher porque se sentiu atraído pelas alunas mais
jovens, o que retrata a triste realidade de muitos homens que avaliam que
somente as mulheres mais jovens são boas para relacionamento.
“É isso: machismo tóxico, normatizado, lugar comum.
O envelhecer pesa às mulheres quando os homens restrigem sua criatividade,
compreensão e sensibilidade a ponto de abrir mão do amor verdadeiro, compassivo
pela manutenção da sua ‘juventude’, tendo o apêndice de uma mulher mais jovem.
O caminho é a independência da mulher em relação ao olhar masculino. Ser livre”,
acredita.
A
atriz completou 48 anos em 8 de março, Dia Internacional da Mulher, e confessa
que está longe de sofrer ou ter crises por conta da idade.
“Estou a caminho do pôr do sol, com aquela
luz que deixa os olhos e dentes fosforescentes no fim do dia. Tem uma clara
sabedoria em amar as precariedades. Tem uma comoção com as perdas (as mortes me
debulham como quem perde seu mundo de afetos) e a energia tem que ser melhor
calculada. Há mais limites, mas aumenta a humanidade. Eu estou meio sem tempo
de ter minhas próprias crises com o país nesta crise.”
Enquanto
isso, ela celebra sua agenda cheia de trabalhos como o lançamento da segunda
temporada de Carcereiros e a novela Órfãos da Terra, além de rodar o país
com um espetáculo musical e um show autoral com sua mãe, a pedagoga aposentada Marilza Sabatella, de 72 anos.
“E quero mais! Pode vir! A gente ajeita a
agenda. Recuso coisas para dar tempo, mas me sinto tão verdadeiramente disposta
a experimentar coisas novas... Estou em cartaz circulando com a caravana de A
Vida em Vermelho-Brecht e Piaf e com o Muitas Águas, show com a minha mãe,
Renata Zé, André Sachs, etc”, enumera.
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