Em
tese, é excelente a ideia – existente desde 2007, mas concretizada somente no
ano passado – de o Biquini Cavadão
fazer um álbum com o cancioneiro de Herbert
Vianna.
Afinal,
trata-se de um dos melhores compositores da geração roqueira projetada no
Brasil dos anos 1980 – um artesão pop ainda não reconhecido na medida do grande
talento como compositor.
Sem
falar que foi Herbert quem batizou o Biquini
Cavadão, grupo carioca tampouco valorizado pelos críticos como merece por
conta da coerência e garra com que tem trilhado uma das trajetórias mais
longevas e bem-sucedidas da geração pop da década de 1980.
Na
prática, o álbum Ilustre guerreiro
(2018) – já disponível em CD, vendido na loja virtual do site oficial do grupo
carioca – cumpre a boa expectativa sem se impor como o grande álbum que poderia
ser.
Por
pertencer à mesma geração dos Paralamas
do Sucesso, trio carioca que vem sendo há quase 40 anos o principal veículo
para a exposição do talento de Herbert
Vianna como compositor e guitarrista (e, sim, cantor que dá conta do recado
como vocalista da própria obra), o Biquini
Cavadão jamais expõe em Ilustre
guerreiro um olhar realmente novo sobre o cancioneiro do amigo e padrinho.
A
decisão de confiar a produção do disco a Liminha,
produtor-Midas da mesma geração 80, contribui para manter a obra de Herbert em
trilhos previsíveis, embora sempre elegantes.
Previamente
apresentada em single, a abordagem sedutora de Só pra te mostrar (Herbert Vianna, 1992) – balada lançada em disco
da cantora Daniela Mercury em
gravação feita com a participação do próprio Herbert Vianna – é o ponto mais alto de disco que pouco ousa.
Balada
lançada por Ivete Sangalo em
gravação delicada que reiterou a habilidade de Herbert para compor canções
românticas, Se eu não te amasse tanto
assim (Herbert Vianna e Paulo Sérgio Valle, 1999) ganha pegada roqueira que
dissipa a poesia e a sensibilidade da composição.
Já
Aonde quer que eu vá (Herbert Vianna
e Paulo Sérgio Valle, 2000) se insinua pop na cadência do reggae – ritmo
recorrente na discografia dos Paralamas desde o início da carreira do grupo –
sem trair a ideia original da balada lançada pelos Paralamas do Sucesso como chamariz inédito de coletânea do trio.
A seminal Vital e sua moto (Herbert Vianna, 1983) é conduzida pelo sopro dos
metais do saxofonista Walmer Carvalho,
do trompetista Marlon Sette e do
trombonista Diogo Gomes em gravação
que evoca demais o universo dos Paralamas, ainda que o caco maroto inserido na
letra – com menção ao Biquini Cavadão
– demarque o território de Bruno Gouveia
(voz), Carlos Coelho (guitarra,
violão e dobro), Miguel Flores da Cunha
(piano, sintetizador e órgão) e Álvaro
Birita (bateria, shakers e pandeiro) na rota Rio-Brasília.
Ska
(Herbert Vianna, 1984) é levada quase na velocidade habitual, com gracioso
toque de surf rockabilly que dá certo charme ao fonograma.
As
baladas Mensagem de amor (Herbert
Vianna, 1984), O amor não sabe esperar
(Herbert Vianna, 1998) e Cuide bem do seu
amor (Herbert Vianna, 2002) – esta com sutil toque de country – completam
as oito faixas de Ilustre guerreiro,
disco situado na fronteira entre álbum e EP, embora o caprichoso tratamento
gráfico da edição em CD seja típica de álbuns.
Enfim,
o Biquini Cavadão – ele mesmo um
ilustre guerreiro do universo pop brasileiro – trata bem o cancioneiro de Herbert Vianna com reverência que até
se justifica, mas que impede o 17º título da discografia oficial da banda de
sobressair na multidão cotidiana de álbuns e singles.
COTAÇÂO: 7.0
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