quinta-feira, 3 de janeiro de 2019

Nossos ídolos ainda serão os mesmos em 2019?

Diante do futuro incerto, cantores tendem a apostar no revival certeiro do passado, mas haverá quem descortine a pele do futuro ao longo de 2019.

Com as incertezas que rondam a chegada de 2019 na área cultural, sobretudo por conta dos questionamentos sobre a Lei Rouanet, motor da produção de grandes shows, a tendência na música é manter aberta a cortina do passado, pintando a aquarela sonora do Brasil com tons já vistos antes.

O crescimento econômico ainda titubeante leva o público a escolher com critério o show a que vai assistir e o disco que vai comprar, embora os players digitais tenham democratizado o acesso a álbuns e singles de todas as modas e estilos. Se há excesso de oferta, falta também disposição para ouvir e consumir álbuns com músicas novas.

Por isso mesmo, diante do quadro de incertezas, cantores e músicos tendem a apostar no que é certo (ao menos, em tese) para garantir um retorno mínimo para os investimentos necessários.
Não por acaso, Milton Nascimento sairá em turnê pelo Brasil com show calcado no repertório dos álbuns Clube da Esquina (1972) e Clube da Esquina 2 (1978). Já Ney Matogrosso põe Bloco na rua em janeiro com show com muitas músicas já conhecidas, embora várias sejam inéditas na voz do cantor de 77 anos.

Ainda no panteão da MPB, Gal Costa seguirá na estrada com show centrado em músicas antigas como Festa do interior (1981) e Chuva de prata (1984). Já saudado pelo público como um dos melhores shows da cantora, A pele do futuro será gravado em março para gerar álbum ao vivo e DVD.

No mercado fonográfico, aliás, a ordem também é revisitar músicas e ídolos do passado. Mart’nália abrirá o ano com álbum dedicado ao cancioneiro do compositor poeta Vinicius de Moraes (1913 – 1980). E Nana Caymmi volta a lançar disco solo, após 10 anos, com tributo a Tito Madi (1929 – 2018), fino estilista do samba-canção que morreu em julho.

Na contramão da exaltação ao passado, haverá quem descortine a pele do futuro. Jards Macalé apresentará o primeiro álbum de músicas inéditas em 20 anos, gravado com a mesma turma de São Paulo que revitalizou a carreira de Elza Soares em 2015. Seu Jorge também volta ao mercado com disco gravado nos Estados Unidos com produção de Mario Caldato. Novos álbuns de Ana Carolina e Pitty também estão programados para 2019.

E por falar nos Estados Unidos, Anitta vai se dedicar em 2019 à conquista do território norte-americano após desbravar o mercado latino de língua hispânica. Presumível gravação com Madonna, prevista extra-oficialmente para ser lançada no primeiro trimestre, certamente ajudará nessa conquista da voz brasileira mais ouvida atualmente no exterior.

Na terra tupiniquim, não é preciso lustrar a bola de cristal para cravar que o som sertanejo continuará hegemônico como em 2018, dominando a cena com mistura pop que abarca funk, arrocha, reggaeton e os ritmos nordestinos genericamente rotulados como forró.

Paralelamente, os rappers vão continuar concentrando forças no lugar de contestação outrora ocupado pelos roqueiros. Bia Ferreira, voz emergente da cena de hip hop, deverá ter voz ativa com o primeiro álbum, Um chamado, previsto para fevereiro.

Nessa dinastia segmentada, em que cada um é rei no próprio quadrado, Roberto Carlos festejará 60 anos de carreira sendo sempre muito, muito romântico.

Na era volátil dos singles e dos clipes, ídolos giram cada vez mais rapidamente na roda-viva de um mercado que anseia pelo oxigênio bombeado pela Lei Rouanet. Talvez por isso já paire no ar a sensação de que Pabllo Vittar perdeu em 2018 um pouco do fôlego de 2017. Vittar conseguirá se revitalizar em 2019? Somente o tempo dirá.

No mundo do sucesso fugaz, louve-se a permanência de Luan Santana no pódio pop romântico sertanejo por uma década. E mais ainda o fôlego contínuo de ídolos septuagenários da MPB como Gilberto Gil, Gal Costa, Maria Bethânia, Ney Matogrosso, Chico Buarque e Caetano Veloso. Todos ainda reverenciados por jovens e velhos fãs.

Nossos ídolos ainda são os mesmos? A resposta será dada em 2019.

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