terça-feira, 1 de setembro de 2015

Tempo de Despertar | Crítica

FICHA TÉCNICA
Título Original: Awakenings
Ano do lançamento: 1990
Produção: EUA
Gênero: Biografia, Drama
Direção: Penny Marshall
Roteiro: Steven Zaillian
Classificação etária: 14 Anos

Sinopse: Bronx, 1969. Malcolm Sayer (Robin Williams) é um neurologista que conseguiu emprego em um hospital psiquiátrico. Lá ele encontra vários pacientes que aparentemente estão catatônicos, mas Sayer sente que eles estão só “adormecidos” e que se forem medicados da maneira certa poderão ser despertados.

Assim pesquisa bem o assunto e chega à conclusão de que a L-DOPA, uma nova droga que já estava sendo usada para pacientes com o Mal de Parkinson, deve ser o medicamento ideal para este casos. No entanto, ao levar o assunto para o diretor, ele autoriza que apenas um paciente seja submetido ao tratamento. Imediatamente Sayer escolhe Leonard Lowe (Robert De Niro), que há décadas estava “adormecido”.

Gradualmente Lowe se recupera e isto encoraja Sayer em administrar L-DOPA nos outros pacientes, sob sua supervisão. Logo os pacientes mostram sinais de melhora e também mostram-se ansiosos em recuperar o tempo perdido. Mas, infelizmente, Lowe começa a apresentar estranhos e perigosos efeitos colaterais.

Na década de 60 o doutor Malcolm Sayer (Robin Williams), começou a trabalhar como neurologista no Hospital Berth Abraham, no Bronx, em Nova Iorque. O local precisava de um médico e não achava candidatos para cuidar dos doentes neurológicos. Sayer não tinha experiência, mas quis a vaga. No começo, quase não se adaptava ao lugar, mas foi lá que acabou se envolvendo com um grupo de pacientes que estavam em um estado de transe profundo. Sayer descobriu que aqueles pacientes foram atingidos por uma doença chamada encefalite letárgica, ou “doença do sono”, quando eram crianças. Ele percebeu que o dano causado pela doença era semelhante ao de Parkinson e como tal, não possuía cura, deixando-os catatônicos pelo resto da vida. Mas havia uma grande chance de tratamento dos sintomas e foi nessa chance que ele apostou alto.

Usando medicamentos voltados para Parkinson, Sayer acabou usando o rapaz Leonard (Robert De Niro), que quando criança teve a doença e sua vida foi completamente arrasada por ela, para iniciar um tratamento experimental que permitiu que todos os doentes regressassem a vida. A operação não foi fácil. Sayer precisou lutar contra o próprio ceticismo dos outros médicos que não acreditavam que ele pudesse reverter aquela situação. Ele começou com o apoio de uma das enfermeiras e, mais tarde, quando os estudos começaram a dar resultados, os outros enfermeiros o ajudaram. Os problemas, contudo, eram graves: o primeiro estava no fato de que os pacientes estavam “dormindo” durante muitos anos e o resultado do uso da droga seria imprevisível; o segundo era o fato de que não haviam estudos conclusivos o bastante para saber se os pacientes mantinham suas atividades cerebrais ou se tinham noções espaço temporais mesmo durante o período de inconsciência; por fim, não se sabia se eles estavam preparados para o mundo lá fora depois de muito tempo desacordados.

Tempo de despertar é baseado na vida do doutor Oliver Sacks e este caso inspirou-o a escrever em 1973 o livro “Awakenings”, que em 1990 seria adaptado para o filme homônimo. O grande trunfo do filme não está apenas na maravilhosa trama esperançosa e no roteiro excelente (indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado ao lado de Melhor Ator para De Niro e Melhor Filme) mas na dupla de atores centrais em atuações excepcionais.

No filme, Robin Williams, um ator que conseguia transitar perfeitamente tanto em comédia quanto em drama, consegue mimetizar toda a personalidade dessa figura ímpar, um homem tímido e solitário, um tanto teimoso e esperançoso, que acreditou no que estava fazendo contra todas as vontades, e que com persistência tentou mudar a vida daquelas pessoas, passando por essa experiência fantástica para também “acordar” para a vida. Williams vai com facilidade da expectativa a felicidade de fazer seus pacientes despertarem, à frustração ao perceber que seu tratamento tem eficiência apenas temporária.

Já De Niro surge na tela completamente paralisado e sua mudança de comportamento em três fases distintas do filme mostra do que esse ator, hoje subestimado por muita gente, é capaz. É uma dessas atuações marcantes que volta e meia surgem no cinema. Leonard é uma figura, como ele se define a certa altura, “grotesca”, aos olhos das pessoas normais – mas ao mesmo tempo, fascinante, por possuir uma chama dentro dele que ele se recusa a deixar apagar. A entrada de um interesse amoroso na trama, cujo comportamento do rapaz mexe também com sua mãe, justifica ainda mais a sua vontade de ser “normal” e de aproveitar a vida que ele ainda tem. Mas uma regressão no seu quadro clínico o induz a ter tiques nervosos e espasmos infindáveis, transformando Leonard em um psicótico que vira um perigo não só para ele mas para outros pacientes, mas que não tira dele sua clareza mental em saber de sua condição e a coragem para lutar contra ela.

É impossível não se emocionar com a conversa de Williams e a mãe de Leonard, antes de aceitar colocar o filho no tratamento, que lhe pergunta o que ele teria de volta ao despertar naquele mundo – ou na cena em que os dois se reencontram depois do começo do tratamento, quando Leonard sai de seu estado catatônico. Ou cenas marcantes, como as protagonizadas pela velha Lucy. Há os clichês básicos do gênero, como a trilha sonora melodramática e incisiva ou o discurso final de lição de moral do doutor. Mas não há como negar que Sacks mudou, mesmo que por alguns preciosos momentos, a vida daquelas pessoas para melhor. E o cinema acabou ganhando de presente, assim, um dos filmes mais tocantes de todos os tempos.


PRÊMIOS

OSCAR
Indicações: Melhor Filme, Melhor Ator – Robert De Niro, Melhor Adaptado

GLOBO DE OURO
Indicação: Melhor Ator em Drama – Robin Williams

TRAILER