No
calor dos momentos, em que sentimos o perigo e o horror perto de nós, assim
como, os atentados aos valores que tanto queremos na vida, leva-nos às
afirmações mais sentimentais e revoltadas como forma de defesa daquilo que
somos. O atentado em França contra o jornal
Charlie Hebdo revoltou muita gente por esse mundo fora e, por isso, muitos
assumiram a frase "Je suis Charlie".
Quando vi a faixa negra em muitos perfis do Facebook parei para pensar se
também deveria substituir a minha imagem por aquela palavra de ordem. Preferi
antes partilhar no meu mural. Partilhar no mural para me associar à revolta que
os franceses estavam a sentir porque enquanto bloguer, desejo ter liberdade de
opinião em relação aos assuntos que me interessam comentar, independentemente
dos visados.
Não
substitui a fotografia do mural porque continuo a ser quem sou - um ser
individual como qualquer um de nós. No entanto, conjugar o verbo être (que se
utiliza para ser/estar) e afirmar "je
suis Charlie" significa que defendo uma liberdade de expressão em
todas as direções; significa a condenação do silêncio e a submissão às ideias
que quero contrariar; significa querer ser critico, ainda que sarcástico, ao
mundo que rodeia.
É
certo que se isto não acontecesse meio mundo, como eu, não se lembrava de ser
Charlie e é preciso que o pior aconteça para defender aquilo que afinal custa
tão caro - a liberdade.
Criticar,
debater, desenhar são tudo formas de expressão. Charlie Hebdo criticava sem olhar a quem - não apenas o Islamismo.
Dessa forma, não entendo que seja tendencioso. Na sua mira esteve sempre a
política, religião a sociedade. As suas publicações em nada se relacionam com o
fato da França ter atitudes menos democráticas com algumas minorias - acredito
que as tenha. Acredito que exista muito trabalho a fazer na integração. Mas
integrar e acolher implica silenciar opiniões como Charlie Hebdo? Ou implica outro trabalho como igualdade de direito
para os cidadãos e a possibilidade de viverem segundo as suas tradições, desde
que não ponham em causa a vida dos outros?