A improvável
história da vida de Jorge Mário da Silva daria um filme, como reconhece o jornalista e produtor musical Leonardo Rivera logo no início do
prólogo do livro que escreveu sobre o cantor, compositor e ator conhecido no
Brasil e no mundo pelo nome artístico de Seu Jorge.
Seu Jorge - A
inteligência é fundamental é uma
biografia não autorizada (mas tampouco desautorizada) de um Jorge que tinha
tudo para cumprir o destino anônimo e triste de um dos milhões de Silva de um
Brasil pobre e injusto. Só que este Jorge - oriundo de Gogó da Ema, em Belford
Roxo, bairro da Baixada Fluminense (RJ) regido pelas leis dos que lá vivem -
driblou as armadilhas da vida, chorou o assassinato brutal de um de seus três
irmãos, sobreviveu durante sete anos como morador de rua e chegou ao topo da
pirâmide social como ator de filmes como Cidade
de Deus (Brasil,
2002) e como cantor e compositor de sucesso, um hábil diluidor do samba-rock
dos anos 1970.
A saga de Jorge Mário da Silva para se transformar em Seu Jorge é tão cativante em si que o livro de Rivera te pega pela palavra. No
caso, pela reprodução de palavras ditas pelo próprio Jorge na mídia. A
principal matéria-prima do livro é a entrevista concedida pelo artista ao
programa Roda viva (da TV Cultura) em 2005.
Costuradas
com declarações de Jorge a jornais e revistas, as falas do artista nesse
programa de TV ajudam Rivera a reconstituir os principais passos da vida do Jorge Mário da Silva em narrativa que seduz pela força dos fatos. A principal contribuição
do autor à biografia é relatar a contratação do Farofa Carioca - o grupo carioca que deu projeção a Jorge no fim da década de 1990 -
pela gravadora então denominada PolyGram.
Criador do
selo fonográfico Astronauta Discos,
Rivera trabalhava na PolyGram na época e foi o principal incentivador da
contratação do coletivo carioca. No livro, ele conta a disputa travada pelo
grupo, também alvo de interesse da Sony Music, e relata a turbulenta gravação
do primeiro álbum do Farofa Carioca, Moro
no Brasil (PolyGram,
1998), disco que fez história com as gravações originais das músicas “São
Gonça” (Seu Jorge) - tema
inspirado pela vivência de Jorge no município de São Gonçalo (RJ) - e “A
carne” (Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses
Cappelletti).
Entre um
depoimento e outro do biografado, Rivera lista as atividades de Jorge no mundo
da música e do cinema. Mesmo sem traçar um perfil mais profundo da
personalidade de Jorge, o livro deixa entrever a inteligência que norteou a
vida do artista e o inspirou a tomar decisões na época incompreendidas, como a
saída do Farofa Carioca após o lançamento do primeiro álbum do grupo. Nas entrelinhas, o livro
revela que a inteligência foi mesmo fundamental para que Jorge Mário da Silva chegasse (a)onde chegou.