sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Livro sobre Seu Jorge pega pela reprodução da palavra do próprio Jorge


A improvável história da vida de Jorge Mário da Silva daria um filme, como reconhece o jornalista e produtor musical Leonardo Rivera logo no início do prólogo do livro que escreveu sobre o cantor, compositor e ator conhecido no Brasil e no mundo pelo nome artístico de Seu Jorge

Seu Jorge - A inteligência é fundamental é uma biografia não autorizada (mas tampouco desautorizada) de um Jorge que tinha tudo para cumprir o destino anônimo e triste de um dos milhões de Silva de um Brasil pobre e injusto. Só que este Jorge - oriundo de Gogó da Ema, em Belford Roxo, bairro da Baixada Fluminense (RJ) regido pelas leis dos que lá vivem - driblou as armadilhas da vida, chorou o assassinato brutal de um de seus três irmãos, sobreviveu durante sete anos como morador de rua e chegou ao topo da pirâmide social como ator de filmes como Cidade de Deus (Brasil, 2002) e como cantor e compositor de sucesso, um hábil diluidor do samba-rock dos anos 1970.

A saga de Jorge Mário da Silva para se transformar em Seu Jorge é tão cativante em si que o livro de Rivera te pega pela palavra. No caso, pela reprodução de palavras ditas pelo próprio Jorge na mídia. A principal matéria-prima do livro é a entrevista concedida pelo artista ao programa Roda viva (da TV Cultura) em 2005.

Costuradas com declarações de Jorge a jornais e revistas, as falas do artista nesse programa de TV ajudam Rivera a reconstituir os principais passos da vida do Jorge Mário da Silva em narrativa que seduz pela força dos fatos. A principal contribuição do autor à biografia é relatar a contratação do Farofa Carioca - o grupo carioca que deu projeção a Jorge no fim da década de 1990 - pela gravadora então denominada PolyGram.

Criador do selo fonográfico Astronauta Discos, Rivera trabalhava na PolyGram na época e foi o principal incentivador da contratação do coletivo carioca. No livro, ele conta a disputa travada pelo grupo, também alvo de interesse da Sony Music, e relata a turbulenta gravação do primeiro álbum do Farofa Carioca, Moro no Brasil (PolyGram, 1998), disco que fez história com as gravações originais das músicas “São Gonça” (Seu Jorge) - tema inspirado pela vivência de Jorge no município de São Gonçalo (RJ) - e “A carne” (Seu Jorge, Marcelo Yuka e Ulisses Cappelletti).

Entre um depoimento e outro do biografado, Rivera lista as atividades de Jorge no mundo da música e do cinema. Mesmo sem traçar um perfil mais profundo da personalidade de Jorge, o livro deixa entrever a inteligência que norteou a vida do artista e o inspirou a tomar decisões na época incompreendidas, como a saída do Farofa Carioca após o lançamento do primeiro álbum do grupo. Nas entrelinhas, o livro revela que a inteligência foi mesmo fundamental para que Jorge Mário da Silva chegasse (a)onde chegou.