O
nome de batismo, Rita Lee Jones, já
é bem sonoro, próprio para uma roqueira. Mas rock, no caso dessa cantora e
compositora paulistana nascida em 31 de dezembro de 1947, é antes uma atitude
do que um ritmo, um gênero musical que mudou comportamentos e a própria música
a partir da década de 1950. Essa atitude roqueira, de quem parece ter sido
empoderada desde o berço, pautou os 70 anos de vida de Rita Lee, completados hoje, derradeiro dia de 2017.
A
festa é a própria Rita, dona de uma obra que se perpetua como uma das mais
perfeitas traduções do carnavalizado pop brasileiro. A própria Rita, pela
postura dessa vida libertária, é uma tradução perfeita do Carnaval desse paradise
Brasil que ela criticou com fina ironia em música de Reza (2012), álbum lançado há cinco anos que, salvo alguma
inesperada mudança de planos da artista, deverá ser o último de discografia
cuja origem remonta ao já longínquo ano de 1966.
Sim,
o último. Porque, no fundo eterna mutante, Rita se deu o direito de sair de
cena como cantora. Mas continua fazendo barulho com a escrita fina, como
reiterou a autobiografia best-seller de 2016 e o livro de contos Dropz, lançado neste ano de 2017 com
capa que expõe Rita em autorretrato de 1997, imagem escolhida para ilustrar
esse texto sobre os 70 anos dessa colorida ovelha negra que embarcou na
anárquica viagem psicodélica do então trio Os
Mutantes, grupo cuja formação clássica (a que vigorou entre 1966 a 1972)
uniu Rita com Arnaldo Baptista e Sérgio Dias, os irmãs Baptista, como
Rita por vezes se refere aos ex-colegas com a espirituosidade mordaz e
recorrente na vida e obra da artista.
Finda
a viagem dos Mutantes, Rita
mergulhou nas cores vivas do rock em discos e shows feitos com o grupo Tutti Frutti. Mas o grande salto de Rita Lee foi dado a dois. Ao encontrar
a cara-metade na vida e na música, na pessoa do compositor e guitarrista Roberto de Carvalho, Rita foi alçada ao
posto de estrela luminosa da música pop brasileira. A campeã de vendas de
discos que fizeram um Carnaval, lançando perfumes musicais com letras escritas
por uma mulher que queria amar como outra qualquer do planeta. Uma mulher que
pediu em 1980 para o homem lhe dar o prazer de ter prazer com ela.
Rita Lee é essa mulher que desafiou os cânones sociais da
década de 1960, que levantou quase sozinha a bandeira do rock nos anos 1970,
que fez o Carnaval dela com Roberto ao longo da década yuppie de 1980 e que
entrou nos anos 1990 cheia de bossa'n'roll. Enfim, Rita Lee parece chegar aos 70 anos com corpinho e alma de 7. A
festa é dela e do Brasil.
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