Ler
poderia ser algo que as pessoas deveriam fazer por prazer, sempre. Infelizmente,
no Brasil, a leitura não é ainda prioridade no desenvolvimento intelectual das
nossas crianças e jovens. A maioria das escolas ainda não consegue desenvolver
bem esse hábito no público infantil. Se bem que, nem de longe, essa pode ser
considerada uma tarefa exclusiva dos professores. Outros espaços como a família
tem também imensa responsabilidade.
No
Brasil ainda temos um grande déficit na aquisição de livros pela população. De
acordo com pesquisa divulgada pela Câmara
Brasileira de Livros, em 2012, os números apontam que de 2009 a 2010 os
brasileiros leram mais. Nesse período o número de livros vendidos teve um
acréscimo de 8,3%. Para a CBL alguns fatores contribuem para esse aumento,
entre eles o maior acesso da população à renda além do preço dos livros que, no
período, teve um pequeno decréscimo. Esse é um dado que não pode ser
desconsiderado, contudo ainda é pouco.
Todos
concordam que a leitura torna as pessoas menos vulneráveis às falsas idéias e
num país como o Brasil, onde a mídia ocupa um espaço cada vez mais solidificado
na formação dos cidadãos, uma leitura de qualidade pode contribuir
significativamente para a mudança de mentalidade dos nossos jovens
influenciando-os na forma como vêem e pensam o mundo. Estimativas divulgadas
pelo IBOPE apontam que o maior segmento de expectadores da TV brasileira são crianças
e jovens que estão na faixa etária entre oito e quatorze anos. E no chamado
horário nobre, aquele em que são exibidos os programas de maior audiência, algo
em torno de 150 milhões de brasileiros estão em frente a um aparelho de TV. E,
mais ainda, a programação do maior canal de audiência atinge atualmente 98% do
território nacional. O IBOPE ainda mostra que a média de horas que o brasileiro
fica em frente a TV é de três a quatro horas por dia.
Os
dados apontados acima são totalmente contraditórios ao que apresento a seguir: de
acordo com pesquisa divulgada em 2012 pela Associação Nacional de Livrarias
existem, no Brasil, 3.481 livrarias. É fato que isso é o dobro do que existe na
Argentina país onde a população é de pouco mais de 42 milhões. Nós somos pouco
mais de 193 milhões. A pesquisa ainda mostra outro dado que considero grave:
das 3.481 livrarias brasileiras, 1.751 delas, algo em torno de 50%, está
concentrado no Sul e Sudeste. Das demais, apenas 586 estão distribuídas nos
nove estados da região Nordeste. A mesma pesquisa aponta o RN com 31 livrarias,
sendo 26 delas localizadas na capital, Natal.
Mesmo
com o pouco incentivo à produção nacional, especialmente aos novos talentos, e
aos autores locais, o que se percebe quando visitamos uma boa livraria é que
existem muitos trabalhos, há excelentes obras no mercado. Há muitos títulos de
autores nacionais e internacionais a nossa escolha. Há estilos literários para
todos os gostos. Porém não adianta termos livrarias cheias dos grandes ícones
da literatura e apenas uma parcela mínima da população ter acesso.
É
necessário e urgente possibilitar o acesso da população à literatura e
incentivar e garantir através de políticas de incentivo à cultura a produção de
autores sejam eles locais, regionais ou nacionais. É fundamental que as escolas
sejam lugares prioritários para o desenvolvimento do gosto pela boa leitura.
Uma política de consumo que não apresente uma concepção de felicidade conquistada
apenas no uso de bens produzidos pela indústria midiática também seria
relevante.
Bom,
aqui já finalizando meus comentários sobre a necessidade e o prazer de ler, e
aproveitando que muitos dos nossos leitores estão ainda vivendo em férias, já
se organizando para o carnaval, peço permissão para sugerir uma obra de uma
leitura muito leve, porém agradabilíssima e de ótima qualidade: Diálogos Impossíveis de Luiz Fernando Veríssimo.
Muitos
conhecem Veríssimo – Autor por vezes polêmico, de frases fortes, é um dos mais
completos da literatura brasileira. É escritor, cartunista, tradutor, roteirista
de televisão, autor de teatro, romancista, além de músico. Nascido em 1936 na
cidade de Porto Alegre (RS), já escreveu mais de 60 títulos, entre eles As
mentiras que os homens contam, lançada em 2000. Apenas esse vendeu mais de 350
mil exemplares.
Filho
do inesquecível Érico Veríssimo, (autor
de Olhai os Lírios do Campo escrito
em 1938) é considerado, por um dos principais veículos da mídia nacional, o
escritor que mais vende livros no Brasil. Ao todo já foram mais de cinco
milhões de exemplares. Em 2011 lançou Em
algum lugar do Paraíso pela editora Objetiva. Em 2012, lança sua obra mais
recente, Diálogos Impossíveis. Essa
última, há onze semanas consecutivas, figura no 1º lugar dos mais vendidos na
lista da revista Veja.
A
leitura desse seu ultimo lançamento é extremamente leve e agradável, sem
deixar, contudo, de ser provocante e aguçante. Com um teor existencialista
Veríssimo escreve Diálogos impossíveis
em pequenas crônicas. Nos diálogos, que acontecem entre diferentes e
diversificados personagens fabulosos, o autor traz um humor fino e inteligente e
não fica nisso. Os diálogos nos levam a surpreendentes reflexões, pois são metáforas
postas de forma contraditória e humanamente instáveis.
A
obra é, na verdade, um conjunto de crônicas que Veríssimo escreve nos anos de
2009 a 2011 para os jornais O estado de
São Paulo e Zero Hora.
Para
você que ainda não conhece apresento-lhe uma que considero muito interessante.
Revelações
A posteridade não é mais um lugar
seguro. Com a nova liberalidade, principalmente em matéria de sexo, as
biografias agora contam tudo. Biografia sem uma revelação antes desconhecida ou
suprimida não tem graça, ou não é biografia. Até as autobiografias precisam
incluir confissões reveladoras, para serem confiáveis.
Existe um livro que diz explicitamente
o que todos já desconfiavam: que J. Edgar Hoover, eterno diretor do FBI,
defensor da lei, da ordem e dos bons costumes, caçador de comunistas e um
notório durão, ia a festas vestindo um tutu rodado. John Kennedy, sabe-se
agora, jamais perguntava a americanas o que seu país poderia fazer por elas,
mas o que elas poderiam fazer pelo seu país ali mesmo, em cima da mesa do
Gabinete Oval.
Durante os anos Kennedy, a maior
ameaça à segurança dos Estados Unidos era alguma moça disparar foguetes
nucleares contra a União Soviética com sua bunda, sem querer.
(E quando os mísseis soviéticos
começassem a cair sobre Washington em retaliação, se ouviria da Casa Branca a
voz de Kennedy gritando: “My God, isto é o que eu chamo de orgasmo!”.)
Em breve saberemos que Cristóvão
Colombo desembarcou no Novo Mundo de mãos dadas com um marinheiro.
Que Átila, o Flagelo de Deus, era
secretamente chamado pelos seus comandados de Rainha dos Hunos e vivia
maritalmente com seu cavalo. Que mesmo durante a guerra Winston Churchill
continuou reunindo-se todas as quintas com ex-colegas de escola para
relembrarem as festas no dormitório, inclusive com as ligas pretas. E que certa
vez Charles de Gaulle foi convidado para a reunião, chocou-se com o que viu,
mas no meio da noite já estava só de combinação.
Alguns detalhes históricos serão
esclarecidos. Napoleão enfiava a mão dentro da túnica seguidamente para ajeitar
o soutien. Stalin tinha um bigode cor de rosa para usar em ocasiões especiais.
Monsieur e Madame Curie eram a mesma pessoa. O doutor Frankenstein inventou a
história do monstro criado no seu laboratório para justificar aquele
halterofilista morando com ele.
Etc. etc.
Uma
boa semana para todos!
Gilberto Costta