Bridget Fonda, sobrinha de Jane, filha de Peter, neta de Henry, completa
50 anos. Ela trabalhou em "O
Poderoso Chefão III", protagonizou "Mulher Solteira Procura", fez suspense, comédia, ação, drama.
Em 2001 disse adeus ao cinema com "Beijo
do Dragão", dividindo a cena com Jet
Li. No ano seguinte, o filme para a TV Snow
Queen marcou sua despedida da profissão. Depois de mais de uma década de
carreira, e de tentar carimbar sem sucesso o passaporte para a elite do
cinemão, ela deu as costas e sumiu.
Tudo
bem que a verdade não é tão dramática quanto os fatos podem sugerir. Herdeira
da realeza de Hollywood e com uma carreira sólida, Bridget casou-se com o
compositor Danny Elfman e decidiu um
novo rumo para sua vida: construir uma família. Assim como sua amiga Phoebe Cates antes dela, que abandonou
os holofotes ao casar com Kevin Kline,
Bridget não pestanejou em trocar o glamour associado com o trabalho como atriz
por uma vida mais simples – ainda que nem de longe esteja desassociada do
cinema. Em seu rastro, filmes bacanas, alguns esquecíveis, outros memoráveis, e
um sorriso difícil de ser esquecido.
Bridget Fonda deu as caras no cinema pela primeira vez em "Sem Destino", filme com o papai
Peter. Mas foi em 1987 que ela recebeu seu primeiro crédito. O filme, Aria, traz dez curtas de dez diretores
diferentes, como Robert Altman a Ken Russell e Nicolas Roeg, e concorria à Palma de Ouro em Cannes do mesmo ano.
Dois anos depois ela fez barulho como coadjuvante em "Scandal", de Michael
Caton-Jones – que lhe rendeu uma indicação ao Globo de Ouro de melhor atriz
coadjuvante. O resto da década de 80 foi preenchido com filmes de pouco apelo
("Strapless", a comédia Shag, ao lado de Phoebe Cates) e, na TV, o longa "The Edge" e um papel em um episódio de "Anjos da Lei".
Apesar
do sobrenome famoso, Bridget nunca usou a família como muleta – pelo contrário,
a relação com o pai e a tia famosos sempre foi marcada pela distância. Ainda
assim, os anos 90 se abriram com grandes oportunidades. Ela fez Mary Shelley em
"Frankenstein – O Terror das Trevas",
do mestre Roger Corman e surgiu como
uma repórter que se envolve com o personagem de Andy Garcia em "O
Poderoso Chefão III". Sem o menor problema em flertar com o cinemão,
ela fez a comédia "Dr. Hollywood"
com Michael J. Fox. Nesse ponto, os
diretores já prestavam mais atenção na moça de sorriso espetacular e beleza
ímpar.
Um
deles foi Cameron Crowe. Em 1992 ele
escreveu a comédia "Vida de
Solteiro" especificamente com ela em mente. O filme, um retrato da
Seattle em meio à explosão do movimento grunge, não fez barulho nas bilheterias
mas ganhou status cult ao longo dos anos – até por mostrar membros do Pearl Jam e do Soundgarden totalmente deslocados como atores. No mesmo ano,
Bridget fez seu primeiro papel como protagonista. O filme, "Mulher Solteira Procura", tinha
direção de Barbet Schroeder e colocava
a atriz de encontro a outro talento de sua geração, Jennifer Jason Leigh. De vida discreta, nos bastidores ela vivia
uma relação tranquila com o também ator Eric
Stoltz, namoro que durou de 1990 a 1998.
Apesar
do fluxo constante de trabalho, Bridget
Fonda nunca ascendeu à condição de estrela que acompanhou outras atrizes de
sua geração, como Julia Roberts e Sandra Bullock. Em 1993, John Badham a escalou para protagonizar
a refilmagem do thriller francês "Nikita",
de Luc Besson.
Apesar
do elenco bacana (Gabriel Byrne, Harvey Keitel, Dermot Mulroney), "A
Assassina" não conseguiu mobilizar o público e naufragou nas
bilheterias – com ele, talvez a grande chance de Bridget abraçar o
primeiríssimo time. Um papel menor em "O Pequeno Buda" e uma última parceria com Phoebe Cates em "Bodies,
Rest & Motion" fecharam o ano.
Daí
em diante, Bridget parece ter estacionado em papéis secundários em filmes que
demoravam a decolar. O que não parecia incomodá-la, já que foram oportunidades
de trabalhar com Nicolas Cage
("Atraídos Pelo Destino"),
Anthony Hopkins e Matthew Broderick ("O Fantástico Mundo do Dr. Kellogg"),
Russell Crowe ("Rough Magic") e Al Pacino ("City Hall"). Em 1997, aos 33 anos, ela foi escalada por Quentin Tarantino para trabalhar em
"Jackie Brown" – e tudo
mais uma vez podia mudar. Apesar de ser um dos melhores filmes do diretor, a
adaptação do livro de Elmore Leonard
teve a tarefa dificílima de seguir "Pulp
Fiction", o filme que mudou o modo de ver e fazer cinema independente.
Ainda assim, Bridget injetou humor e sensualidade no papel da gatinha de praia
envolvida com o traficante interpretado por Samuel L. Jackson, que não se dá exatamente bem com seu chapa
recém-saído da cadeia (papel de Robert
De Niro).
"Jackie Brown" não deu o impulso de
carreira que Bridget pode ter imaginado. Nos anos seguintes ela pagou as contas
com filmes medianos ("Um Estranho
Chamado Elvis", "Pânico no
Lago", "Delivering Milo")
e ao menos uma pequena obra-prima: "Um
Plano Simples", de 1998. Sob a direção de Sam Raimi (que havia colocado a atriz numa pontinha em "Army of Darkness" em 1993), a
história de dois irmãos (Bill Paxton
e Billy Bob Thornton) que encontram
uma sacola com milhões nos destroços de um avião é um dos thrillers mais
bacanas do fim do século 20.
Não
é fácil apontar o ponto em que ela jogou a toalha. "Beijo do Dragão", veículo ocidental para o astro das artes
marciais Jet Li, é até decente. A
comédia "The Whole Shebang",
com Stanley Tucci, não sai do lugar.
Mas no mesmo ano de 2001 ela apareceu ao lado de Brendan Fraser no intragável "Monkeybone – No Limite da Imaginação". Nunca um título
nacional foi tão profético. O filme de Henry
Selick ("O Estranho Mundo de
Jack") enfrentou diversos problemas durante sua produção e a mão
pesada do estúdio em sua edição. Planejado como um épico de fantasia, em que um
cartunista em coma tenta escapar de sua condição usando sua imaginação,
terminou como uma aventura tediosa, em que os inúmeros cortes ficam óbvios com
personagens que surgem e desaparecem sem acrescentar nada à trama.
Em
2002 Bridget Fonda fez o filme para
a TV "Snow Queen". Mas já
era tarde. Depois de mais de uma década quase chegando lá, coroada com um
fracasso como "Monkeybone",
ela deve ter dado um passo para trás para avaliar suas opções. Um acidente
automobilístico em fevereiro de 2003 causou uma fratura em sua vértebra. Em
março ela anunciou o noivado com Danny
Elfman, casando em novembro do mesmo ano. Agora, na casa dos 50 anos, Bridget Fonda parece ter encontrado seu
caminho – não sob os holofotes ou em frente a uma câmera, mas como mãe. Sem
fanfarra, sem maiores dramas. Ela parou de atuar, virou as costas para a
indústria e deixou uma carreira sólida, às vezes exemplar, sempre interessante.