O site da revista Rolling Stone publicou hoje uma entrevista exclusiva
com Madonna. Confira abaixo a tradução:
No último ano Madonna
passou atualizar seus fãs sobre o progresso de seu 13º álbum através de posts
no Instagram com os seus colaboradores (Nicki
Minaj, Avicii, Diplo) e inspirações (crianças no
Malaui, Miley Cyrus, placas dizendo
“eu preciso de mais dinheiro, mais poder
e menos merda das pessoas”).
Mas na última semana seu
processo criativo foi interrompido pelo vazamento de 13 canções que ela disse
estarem inacabadas. Diante de uma potencial calamidade, seu time teve uma
rápida decisão: finalizar e lançar imediatamente seis canções no iTunes e divulgar a data de lançamento
de seu álbum, intitulado Rebel Heart, para Março/2015.
Um dia após as faixas
estarem no iTunes, Madonna foi Número 1 em 41 países – em todos os lugares, dos Estado Unidos a Israel,
da Rússia a Filipinas. Ela deu a primeira entrevista sobre esse lançamento
surpresa à Rolling Stone.
É certo
dizer que você esteve muito ocupada nesses dias? Oh meu
Deus, tão ocupada! Vamos falar de algo bom!
O álbum
está focado em dois temas: ouvir o seu coração e ser rebelde. Quando você se
sentou para escrever, você já estava guiada por essa ideias antes de qualquer
plano musical? Eu nunca sento e conscientemente
penso que quero escrever sobre um tema. A música me leva às ideias e para onde
eu quero ir emocionalmente. Quando eu comecei, estava escrevendo com o Avicii e
seu time e foram separados em dois grupos. Um deles tinha mais proximidade para
escrever com as batidas, sonoramente falando, e o outro time escolheu uma
pegada mais obscura. A música me leva, e gosto de me perder no seu som e isso
que cria um tipo de gosto emocional. Eu achei que fosse olhar para trás das
minhas músicas e testemunhar o que havia escrito, pois eu estava vindo de dois
lugares muito distintos. Isso acontece organicamente, não é planejado e fico
observando “Oh, esses são os meus dois lados muito fortes que eu preciso
expressar”.
Então as
decisões sobre em quem você confia para lhe guiar musicalmente são claramente
bastante cruciais. Sim. E às vezes na fase da
composição, elas são as pessoas com quem eu me sinto conectada, como ser
humana, e sinto que me entendem como uma compositora e pessoa, então é mais
fácil para escrever. Para escrever música, você precisa estar vulnerável, não
pode ter medo de se expressar e dividir ideias. É quase como escrever em seu
diário na frente de alguém e ler em voz alta. Algumas pessoas me fazem ficar
confortável e me sinto conectadas com elas, e outras pessoas parecem um pouco
estranhas para mim. É um exercício, jogar minhas ideias na sala e deixá-las
fluírem, mesmo que não me sinta tão conectadas com alguém.
Living for
Love é uma triunfante canção sobre separação. É uma
canção de separação (risos).
Mas não é
uma canção triste sobre separação. A questão
é, muitas pessoas escrevem sobre estarem apaixonadas e felizes ou escrevem
sobre um coração despedaçado e estar inconsolável. Mas ninguém escreve sobre
ter o coração partido e estar esperançoso e triunfante depois disso. Então
pensei, como posso fazer isso? Não queria compartilhar um sentimento sendo uma
vítima. Esse cenário me deixa devastada mas me faz ficar mais forte.
A canção
casa com um clássico house com algum toque sintético do Diplo. Você o encorajou
a ir um pouco além? Oh, eu não preciso encorajar o Diplo
a ir além pra nada. De fato, tive que falar algumas vezes pra ele ficar mais
calmo. Ele é meio elétrico às vezes. Acho que Living for Love é uma de suas
produções mais maduras.
Devil Pray
corre o risco de ser mal interpretada por ser uma canção encorajando ou
condenando as drogas, mas é mais sobre a busca da espiritualidade, certo? Eu não acho que quando as pessoas experimentam drogas estão
conscientemente falando pra si mesmas que querem estar perto de Deus. Acho que
é algo mais primitivo, uma coisa mais inexplicável que acontece onde eu acho que
as pessoas se sentem quando estão lá longe e se conectam com o universo e
apreciam coisas ou vêem detalhes que de oura maneira poderia ter perdido, ou
sentindo algum tipo de alegria eufórica. No fim das contas esses sentimentos
nunca acabam pois as drogas desgastam e em seguida há o efeito colateral.
Sempre que você faz se sentir eufórico sinteticamente, acaba sendo ruim. E
certamente não estou julgando pessoas que usam drogas ou dizendo “não use
drogas”, porém, estou dizendo que você pode ter todas essas coisas para se
conectar num outro nível, mas no final você estará perdido. Pessoas que querem
sempre ficar assim estão insistivamente também tentando um outro nível mais
alto de consciência, mas fazem isso de uma forma que não vai sustentá-los.
Há também
uma mensagem de buscar a espiritualidade através da união e não estar isolado. Sim, e essa é outra mensagem sutil da canção, e você tem mesmo que
prestar atenção na letra e espero que as pessoas façam isso ao longo do tempo.
A maneira como estamos mudando o mundo, ou a maneira que estamos indo em busca
da alegria é através da unidade. Eu certamente não estou incentivando um
comportamento religioso; quando digo que estão pensando num tipo de religião,
eu acho que pensam sobre regras, dogmas e leis que separam. Quando eu digo
espiritualidade, quero que entendam que estamos todos juntos, somos todos um.
Temos que achar uma maneira de sentir alegria e trazermos juntos essa alegria
para o mundo. E que no fim das contas isso é com consciência, não com drogas.
Estamos
num momento crítico, um tempo assustador e estranho, que não parece muito
distante do mundo em Ghosttown. Sim, nós
estamos e essa canção é uma espécie de olhar para o mundo de um jeito, vendo o
colapso da civilização em torno de nós, por falta de uma palavra melhor. E no
final, se não tivermos petróleo, eletricidade, telefones, computadores e todas
essas conveniências modernas, teremos apenas uns aos outros, o ser humano. E
essa canção é sobre reconhecermos isso.
E ainda é
uma canção reconfortante, não é uma canção assustadora ou que transmite medo. Não. Mais uma vez, esperançosa. Olhar para essa destruição e ver
esperança. E é sobre isso que muitas das minhas canções nesse álbum falam.
Se Living
for Love é uma canção de separação, Unapologetic Bitch é a “foda-se”. Sim! (risos). É do tipo, foda-se, quero me divertir. Você acha que vai
arruinar minha vida e que tudo acabou pra mim, mas quer saber? Não é. A vida
continua…
Diplo que
produziu a canção e tem um papel interessante na música hoje, viajando o mundo
coletando diferentes sons, ajudando outras culturas para dar sentido a elas.
Como vocês se relacionam? Sabe quando você encontra
alguém, trabalha juntos e percebe que os dois olham para a vida mesma maneira?
Eu sou uma dessas pessoas, eu viajo o mundo também, me desenvolvo em outras
culturas, e absorvo e vejo beleza em outras culturas por diferentes
perspectivas, através da arte, literatura, da música, e a referência disso tudo
me inspira no meu trabalho. E u acho que Diplo também tem isso. Nos reconhecemos
como parentes de espírito. Quando nos encontramos, ele não sabia desse meu lado
e eu não sabia desse lado dele, e não teve esse papo, foi mais algo do tipo
“ei, viu isso?, ouve essa faixa. Gosta disso?”. Cada um mostrando a música que
adora e reconhecendo que gostamos de um monte de coisas e depois começamos a
trabalhar.
Como veio
a ideia de trabalhar Illuminati com Kanye West? Foi uma
canção que escrevi em março ou abril. As pessoas estão sempre usando essa
palavra illuminati mas sempre se referem da maneira errada. Até me acusam de
ser membro do Illuminati e acho que hoje em dia na cultura pop iluminati é
percebido como um grupo poderoso, de pessoas bem sucedidas que trabalham nos
bastidores para controlar o universo. E me acusavam de ser membro disso, então
eu esperei e fui saber qual era o real significado.
Você
pesquisa no Google essas coisas? Pois é muito divertido. Sim. Mas a questão é, eu sei quem são os verdadeiros Illuminati e sei de
onde essa palavra veio. É um grupo de cientistas, artistas, filósofos,
escritores, que surgiu como sendo a Era do Iluminismo, após a Idade das Trevas,
quando não havia escrita, arte, criatividade, espiritualidade, e a vida era
realmente bem parada. E depois disso, tudo floresceu. Por isso tivemos pessoas
como Shakespeare, Leonardo Da Vinci, Michelangelo, Isaac Newton, e todas estas
grandes mentes e grandes pensadores foram chamados de Illuminati.
Porque
eles estavam iluminando a consciência. Sim, para
ir na raíz da palavra, eles eram pessoas iluminadas. Não tinha nada a ver com
dinheiro e poder. Claro que eles eram poderosos pois influenciavam pessoas. Mas
seu objetivo era inspirar e iluminar. Então quando se referem a mim como membro
do Illuminti, apenas tenho que agradecer. Obrigado por me colocar nessa
categoria. Mas antes de agradecer, eu sinto como tivesse que escrever uma
canção sobre o que os Illuminatis eram e não o que não eram. Quando mostrei
minhas faixas demos pro Kanye, essa musica ressoou pra ele. Ele amou a melodia
e já foi direto pra mesa de som. Ele literalmente ficou em cima da mesa de som,
ficamos preocupados dele bater a cabeça no teto, mas não aconteceu. Ele estava muito
ansioso com a música e acrescentou o seu toque musical e eu amei. Pra mim ele
elevou a letra com a música. É como uma sirene alertando as pessoas.
Quando
você trabalhou com Nicki Minaj em Bitch I’m Madonna, você a orientou ou ela fez
o que queria? Sempre que nós trabalhamos juntas ela
sempre senta comigo e ouve a canção e diz “me explica o que é essa canção pra
você”. Ela é muito metódica nos pensamentos. Nós conversamos, e descrevo sobre
o que significa e o sentimento que gostaria e ela vai embora e trabalha nisso.
Escreve e volta, faz uma versão, conversamos, alteramos. É uma colaboração
total.
Você disse
que cada canção desse álbum foi feita sem produção, para poder deixá-las mais
acústicas e ainda poder trabalhar por cima. Foi algo que já tinha pensado nos
álbuns anteriores? Não. Muitas vezes eu pensava apenas
na sonoridade, se eu queria um material dance ou uma balada. Dessa vez foi
diferente, eu pensei – e isso tudo foi parte do meu Armageddon, pensando agora
– o mundo está mudando e pra mim é como o que isso significou no final do dia?
Tudo se resumiu a essas canções.
Se você
estivesse sozinha no fim do mundo, você poderia assim apenas mostrar essas
canções? Sim. Se for só eu e o violão, ainda
poderia mostrá-las? Em todas as canções eu precisava deixá-las mais simples e
ser capaz de transmitir o que quero dizer apenas com minha voz e violão.
Você já
começou a pensar na reinvencão dessas canções para uma turnê? Estou pensando sobre isso. Mas agora esse lançamento no iTunes foi como
uma corrida de 50 metros.
As canções
foram #1 em 41 países – pra você se sentir bem. E demonstra que os verdadeiros
fãs ainda estão dispostos a pagar pela música. Sim, eles
são extremamente leais e eu sou muito grata por isso.