domingo, 10 de setembro de 2023

Xuxa | Documentário é cheio de emoção e com edição na velocidade 2x do zap

Você já parou para pensar que os baixinhos de hoje devem estar lá, quase com seus 40, 50 anos? É preciso, porém,  “ler” o documentário que retrata a vida de Xuxa não com os olhos de um eterno baixinho, mas, sim, como espectador interessado, ao longo de cinco episódios, em saber mais sobre a sua história. O blog assistiu e começa esta crítica com essa dica. Xuxa é exposta nos seus momentos de glória e de fracasso, em trajetória que conseguiu condensar um movimento inteiro com seus passos, além de polarizar opiniões. 

Xuxa, O Documentário, é um projeto que celebra os 60 anos de uma das artistas pop mais importantes da história da cultura brasileira, completados em março. Teve a estreia do seu primeiro episódio no dia 13 de julho deste ano. Com produção original da Globoplay, revive a vida e obra da apresentadora Maria da Graça Meneghel, nome de batismo. O documentário é sucesso na plataforma. 

Episódio 1. Super Nova

Para começar o primeiro episódio, observamos o surgimento de Xuxa, além de toda nostalgia e memória, pode-se dizer que até afetiva. No início de sua carreira como modelo, no fim da década de 70, Xuxa era requisitada para estampar as capas de revistas do Brasil, até ingressar, de paraquedas na TV Manchete, e se desenrola como apresentadora a partir do “Clube da Criança”. Quem não lembra do clássico “Aham, Cláudia! Senta lá”? Um dos momentos mais icônicos do seu início de carreira, onde Xuxa falava de igual para igual com as crianças.

A transferência para a TV Globo foi em 1986, com o “Xou da Xuxa”, um dos programas infantis mais populares que a televisão já presenciou e que ultrapassou barreiras. A memória afetiva, visual e emocional, em seus primeiros minutos, relembrar Praga e Dengue, que eram amigos da Xuxa, a comoção dos fãs que a cercavam onde estivesse (há quem diga que Xuxa lançou pela primeira vez a palavra seguidores). O fenômeno era tão grande, que causava histeria, e talvez para quem nunca viu como surgiu a Xuxa, o documentário seja algo a despertar uma curiosidade. Pedro Bial com sua equipe do Conversa Com Bial, talvez, em seus rascunhos do documentário, não imaginaram que trazer quem um dia foi baixinho e descolar quem não foi, tenha sido relevante para chamar atenção neste primeiro episódio. Enfim, temos a Xuxa nas telas! 


Episódio 2. O Mundo Aos Seus Pés

Xuxa ganhou o mundo! O famoso e polêmico filme de Walter Hugo Khouri, “Amor Estranho Amor”, lançado em 1982, com grandes atores no elenco como Vera Fischer, Tarcísio Meira e Mauro Mendonça, traz Xuxa com seus 19 anos na época, contracenando com um menino de 12. Xuxa relembra a história do filme, quando as pessoas assistem (e é uma verdade) apenas a cena onde aparece nua com o menino, e a polêmica por ser acusada de pedofilia, por reproduzir a famosa cena de sexo. No reencontro com o ator, Marcelo Ribeiro, há uma revelação curiosa para Xuxa, Marcelo revela que após o filme, nunca mais conseguiu emprego nas mídias, por ter sua imagem atrelada a ela. 

O episódio passa para a  explosão  que foi o “Xou da Xuxa” sua reprodução em países como Espanha, o sucesso astronômico na Argentina e sua passagem meteórica pelos Estados Unidos. Xuxa embarca no  american dream e aprende a língua inglesa em tempo recorde. Mas sua ida para os Estados Unidos teve conotação sensual e sexual, devido às vestimentas de Xuxa na época. E foi nos Estados Unidos que Xuxa teve sua diversidade de Paquitas ou as Pixies, tendo uma paquita negra no elenco, contrariando sua empresária Marlene Mattos. Nessa mesma época, por excesso e intoxicação de analgésicos, o corpo de Xuxa entrou em colapso devido ao grande volume de programas que realizava na época, desenvolvendo um problema de hérnia de disco. 

A história da Maria da Graça chega a um dos seus grandes sucessos das telonas “Lua de Cristal”, com certeza é um divisor de águas na carreira de apresentadora e atriz de  Xuxa. Porém, neste episódio a carreira cinematográfica, musical e o sucesso do Xuxa Só Para Baixinhos é muito pouco explorada pelo documentário. Dois fatos, um deles inusitado, chamam atenção no decorrer do episódio: por que Marlene Mattos vendeu diversas fotos de Xuxa para os tabloides? Seria para dar mais projeção para Xuxa ou foi por pura maldade? E Michael Jackson, que do nada, ao conhecê-la, queria ter um filho por contrato. Enfim, somente Xuxa saberia nos responder os trâmites e cláusulas do contrato.

Episódio 3. Amor, Morte. Vida e Fogo

A vida de Xuxa é marcada, neste episódio, por amor, muito trabalho e as perdas de pessoas queridas pela morte. Mostra o começo arrebatador do namoro com o saudoso Ayrton Senna, passando o sentimento de saudade ao rever o grande ídolo do Brasil na tela, até a cena da sua morte. No entanto, o episódio traz um erro bem grande ao não mencionar o relacionamento que Ayrton teve com Adriane Galisteu, na época. E que  Xuxa se vestiu, literalmente, de viúva, por ele ser o grande amor de sua vida até a chegada de Juno.  

Mais uma vez temos um corte. Com o desenrolar do episódio, surge o questionamento: Marlene gostava de Xuxa? A resposta é não. O que ela mais queria era o poder sob Xuxa, o que a impedia de viver. Marlene não parou por aí, ainda exigiu que escolhesse entre amor e trabalho. Se ela escolhesse o amor, o projeto todo pararia e ela nunca mais a veria. Com isso, o trabalho foi escolhido. Marlene isolou a Xuxa do mundo. 

Esse sentimento de solidão que pairava, fez com que o desejo de ser mãe aflorasse. Caso não tivesse ninguém, chegou a cogitar em fazer inseminação artificial. Mas com o relacionamento avassalador com Luciano Szafir o sonho foi realizado. Luciano aceitou ter um filho sem se casar, o que não era o sonho de Xuxa.

O ano era 1997, a capa da revista Veja diz o seguinte: “Gravidez sem Casamento. Xuxa anuncia que terá um filho com o namorado”. Pois bem, hoje vemos que a revista foi super antiquada ao trazer tal manchete. O sensacionalismo em cima de Sasha, a venda de imagens pela Marlene, Xuxa queria essa exposição toda? 


Episódio 4. Encontros e Despedidas

Um dos momentos mais aguardados do documentário certamente é o frente a frente de Xuxa e Marlene, após 19 anos de separação. A relação abusiva de trabalho ficou muito evidente com as opiniões fortes de Marlene como, por exemplo, de que “ídolo tem que morrer cedo”, quando Marlene se refere ao fato de Xuxa não beber e não fumar.  Até pode-se entender, um pouco, o porquê tanta rigidez e frieza, por se tratar de uma época em que as emissoras eram ainda mais machistas, ter um programa comandado por uma mulher jovem era uma quebra de padrões para a época na TV Globo.

Episódio 4, de frente com Marlene Mattos. | Foto: Blad Meneghel

Porém, quando a conversa se desenrola entre as duas que estavam desconfortáveis naquele momento, a obsessão pelo produto Xuxa como forma de negócio era visível. Xuxa era um brinquedo na mão de Marlene. Perguntas vazias e respostas marcantes, como quando Marlene diz que as duas eram um casal sem sexo, o que deixou Xuxa petrificada, e a quem assiste também. Marlene chegou a dizer que não gostava de crianças e que tinha nojo de crianças especiais. 

No relacionamento abusivo e tóxico, Marlene ia muito além. Xuxa ficava cega para esses abusos, talvez por ter sido abusada quando pequena e por ter um certo medo ou receio de perder alguém, não sabemos. Marlene era um general! Trancava Xuxa e as Paquitas nos quartos dos hotéis onde se hospedaram para ninguém sair e ter contato com o mundo externo. Aliás, há uma controvérsia nesse episódio: afinal quem mandou pintar os cabelos das Paquitas de loiro, Marlene ou Xuxa? Sobre isto, Xuxa afirma que Marlene havia realizado uma pesquisa e que os telespectadores do Xou da Xuxa, preferiam ver loiras na televisão.

Marlene não parou, armou um encontro surpresa com o pai de Xuxa (quando a mesma já não falava com o pai há um tempo), mas apesar de tudo foi por meio de Marlene que os programas nunca foram comandados por homens.  

Mais um corte. Nesse momento vemos a vulnerabilidade da mãe de Xuxa, quando ficou doente até falecer. Foi uma sequência de perdas, o irmão, o pai e a irmã faleceram nessa ordem. Há um retorno para Santa Rosa, sua cidade natal, no Rio Grande do Sul. Aqui começa a vivência e os relatos dos primeiros abusos sexuais sofridos por Xuxa. 


Episódio 5. Uma Velha Chocante

Ninguém nasce sabendo o significado da palavra abuso, um tema delicado, porém necessário. O ano era 2012, Xuxa contou a um quadro do Fantástico que sofreu abuso na infância. Um choque para os telespectadores. Aqui podemos observar a grande vulnerabilidade de Xuxa. Nos atentamos aos detalhes dessa história.

Ao revelar para o Brasil esse segredo guardado ao longo de décadas, Xuxa abre um parêntese em sua carreira. Sofrer qualquer tipo de abuso é crime, que deve ser levado às autoridades competentes.  Mas nas décadas de 60 e 70 era bastante diferente. O que fica bem claro é que um amigo de seu pai, chamado Álvaro, e o namorado de sua avó e primos cometeram os abusos. 

O que se sabe até o momento é que o capítulo possui diversas falhas, muitas camadas e uma boa acelerada. Reviver o abuso não é fácil para ninguém! Xuxa conversa com o irmão Blad, ao qual o abuso é retratado, o mesmo perguntou porque ela não contou na época, Xuxa então diz que sentia medo e vergonha. Medo porque achava que a família não iria acreditar e que o irmão pudesse matar alguém, e vergonha por passar por tudo isso em silêncio. Após, Xuxa fala da perda da virgindade aos 19 anos, quando revela que queria ter relações sexuais logo.

No mundo das modelos, ter 19 anos e ser virgem era visto como “idiota”, e as meninas não falavam muitas coisas sobre sexo perto de Xuxa. Sua “primeira vez” foi com Pelé. Um homem que, na época, tinha 42 anos, o seu “amigo colorido”, como conta no documentário.


O que Xuxa não contou no documentário:

Papo de Segunda, no canal fechado GNT, Xuxa conta que a edição cortou pedaços e juntou com outros. O olhar do outro ao contar sua história, e Xuxa conta que poderia ter feito um pouco mais no documentário. Além de revelar que assinava papéis em branco e que não sabia quanto ganhava. Outro detalhe sobre a relação com Marlene Mattos chamou atenção: quando se viu sozinha e queria alguém para namorar, tinha que ter aprovação de Marlene, por ela os homens teriam que ser famosos e com dinheiro. Outro momento foi quando Xuxa comenta sobre uma vez que, na relação sexual, o rapaz pediu para ela cantar “Quem quer Pão”. Dito isto, percebe-se que a pessoa não estava querendo a Maria da Graça e sim a personagem Xuxa;

Quem Pod, Pode! Marlene volta a ser assunto sobre relacionamento tóxico e que escrevia tudo para Xuxa falar.

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