O
último disco de inéditas do quarteto californiano, No Doubt, veio como
grande presente para os fãs e mídia do mundo inteiro que ansiavam por novidades
do grupo a muito tempo, inclusive eu.
Foi
um processo longo, tenso e extremamente desafiador para a banda, que precisava
lançar um material superior ao do disco de 2001, Rock Steady, que fez o maior
sucesso nas paradas de todo mundo. O mesmo foi o segundo disco mais bem
sucedido da carreira do No Doubt – o primeiro lugar fica com o
antológico Tragic Kingdom, de 1995.
E
parece que o falatório e a pressão não abalaram o grupo. Demorou [muito] para Push
and Shove sair, mas a espera foi bem recompensada para quem acompanha a
evolução da banda que, a cada disco, não se mostra apenas mais madura, mas sim
repensada.
Apesar
de ter enfrentado um inacreditável bloqueio criativo, que só foi ultrapassado
graças ao direcionamento do produtor Mark “Spike” Stent, em Push and
Shove o No Doubt mais uma vez abre a mente e cria um registro que
passeia por vários estilos musicais.
“Settle
Down“, faixa escolhida não só para abrir o registro, mas também para trazer
o grupo de volta ao mundo, traz ritmo empolgante e contagiante, resultado da
mistura de pop, rock, reggae, dub, ska, new wave e, até mesmo, música indiana e
trip-hop, apresentando já uma prévia do mesclar de influências e estilos
musicais que o ouvinte irá apreciar ao longo do disco.
Começando
a soltar músicas mais dançantes e mais puxadas para o new wave, surge “Looking
Hot“, com uma introdução curta, misteriosa e diferente do material que
compõe o restante da faixa, onde o reggae também se faz presente mesmo que por
um breve momento, mas que já é o suficiente para transportar o ouvinte para a
época em que o quarteto fazia covers de Sublime e colaborações com Bradley
Nowell, que, ao lado de Gwen Stefani, preenchia trechos das canções
dizendo “pow, pow”.
“One
More Summer“, sem dúvida, foi uma das faixas mais comentadas do disco
quando ele ainda nem sonhava em receber título e muito menos data de
lançamento. O refrão cativante, os sintetizadores e as guitarras à la New
Order (por tantas vezes destacadas em textos sobre a nova sonoridade da
banda), tornam essa faixa uma fortíssima candidata queridinha dos fãs.
Por
citar single, o disco tem sequência com sua faixa-título, “Push and Shove“,
segunda música de trabalho desse disco do No Doubt.
Com
produção de Diplo e participações de Busy Signal e Major Lazer
(projeto do próprio Diplo), o grupo criou uma faixa pulsante, que
passeia por dancehall, dubstep, hip hop, rock alternativo e, claro, ska. A
música, que conta com refrão explosivo (cujo grande responsável pela carga de
energia é o baterista Adrian Young), também traz um belo trecho mezzo a
cappella, onde Gwen Stefani mistura sabiamente vocais graves e agudos.
Para
diminuir o ritmo do registro, chega a vez da balada “Easy“, que
apresenta mais um timbre de guitarra que remete o usado em algumas canções do New
Order. “Easy” também traz uma agradável incorporação de “reggae
beat” à la Rock Steady, para mudar o curso da canção que parecia seguir
uma linha reta (e um pouco tediosa) até o fim.
Substituindo
“Easy”, o registro parte para “Gravity” e “Undercover“,
duas faixas que misturam new wave e pop rock, deixando a sensação de terem sido
lapidadas do acervo de b-sides de Rock Steady. Em ambas, melodias
ingênuas (não que isso seja algo ruim) e com predominância de sintetizadores.
Com
violões, teclados e clima que lembra “Suspension Without Suspense“, do
disco Return of Saturn (2000), surge “Undone“, para dar um toque
sereno ao registro. Vista pela própria Gwen Stefani como uma faixa
emotiva e não como uma balada, “Undone” tem tudo para induzir os fãs a
erguerem seus isqueiros e celulares quando for apresentada nos shows.
Para
a alegria dos saudosistas, o No Doubt oferece “Sparkle“, mais uma
de suas faixas que, com sabedoria, mesclam reggae, dub, Rock Steady e
pop rock, com direto à participações sempre muito bem-vindas de Gabrial
McNair e Stephen Bradley – fiéis músicos de apoio da banda – nos
metais. Inclusive, embora Gwen Stefani tenha dito que estava surpresa
com a quantidade de músicas com metais que Push and Shove possui,
infelizmente, essa é a única onde a presença é mais forte.
De
volta ao misto de new wave com pop rock, o disco segue com a divertida e
dançante “Heaven“, e finaliza com uma de suas melhores faixas, “Dreaming
The Same Dream“. Nessa última, o No Doubt realizou um trabalho
completo: melodia cativante, letra típica de Gwen Stefani (abordando
sobre relacionamento amoroso) e arranjo muito bem trabalhado, dando origem a um
surpreendente fim, que deixa gosto de quero mais – acentuado pelo término em
fade out.
No
final, Push and Shove teve sua missão cumprida: soa ao mesmo tempo
moderno e oitentista, exatamente do jeitinho que a banda queria, mas sem deixar
de lado elementos que fazem parte de sua real essência: ska, reggae e dub.
Nota: 9/10
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