Misturando
pitadas de terror e doses de comédia, o diretor Mark Mylod (Qual Seu
Número?) conseguiu construir, em O Menu, um suspense na medida
perfeita: sem exageros despretensiosos e com uma narrativa que faz sentido. O
longa tem um quê do nacional Animal Cordial com um pouco da história do
avião de Relatos Selvagens, filme de Damián Szifron. E isso
certamente é um elogio.
Com
um texto bem lapidado, a trama conta a história de Margot (Anya Taylor-Joy)
e Tyler (Nicholas Hoult), um jovem casal que viaja até uma ilha, na
costa dos Estados Unidos, para desfrutar do banquete de um dos restaurantes
mais famosos e exclusivos do país, comandado pelo chef de cozinha Slowik (Ralph
Fiennes), um homem excêntrico e presunçoso que causa estranheza desde o
início.
Essa
sensação de que algo está errado, no entanto, é sentida apenas pelo público e
pela própria Margot, enquanto o resto dos convidados— um grupo de pessoas
elitistas e ricas — parece aproveitar o restaurante.
E
é a partir desse ponto que Mylod constrói um retrato cínico e debochado da
burguesia. Com um suspense que vai crescendo pouco a pouco, à medida que a
trama se desenvolve, vamos conhecendo mais do chefe e de seus convidados e
entendemos que todos estão ali por alguma razão. Exceto Margot.
A
protagonista é a única que não deveria estar no restaurante, uma vez que foi
convidada por Tyler em cima da hora, apenas porque ele havia terminado seu
relacionamento anterior e precisava de companhia e, portanto, é a potencial
final girl, ou seja, a sobrevivente desse jantar que se transformará em um
massacre.
A
burguesia fede
Há
muitos anos Cazuza cantou essa filosofia em sua música, e o chefe
Slowik, de O Menu, parece concordar com ela, uma vez que todos seus
convidados são burgueses incapazes de se importarem com algo que não seja sobre
eles mesmos e seus próprios desejos.
Vale
falar que os personagens são muito bem construídos e têm diferentes camadas em
sua composição, o que faz com que o filme seja rico em detalhes e que a trama
consiga se aprofundar um pouco mais em cada um deles.
Enquanto
Tyler é o retrato irônico do burguês prepotente e alienado a ponto de se
suicidar só porque seu ídolo mandou, os três amigos milionários da mesa ao lado
são a melhor metáfora dos três patetas: bobos, ingênuos e infantis. Aquela
espécie de rico que dá carteirada e diz “Você sabe com quem está falando?”.
No
outro canto do restaurante temos o clássico cidadão de bem que tem amante; do
lado oposto, o ator decadente que acredita que sua fama é capaz de conquistar
tudo o que ele deseja. Também não podemos esquecer da mesa central, onde estão
dois críticos gastronômicos metidos e soberbos.
Essa
estereotipização da elite é feita com primor e com doses de ironia que aparecem
no momento certo, sem deixar o texto bobo ou superficial.
Aqui
vale comentar que a atuação de todos agrada, mas o destaque fica para Ralph
Fiennes. Ele entrega um personagem de contrastes. Seu chef Slowik é cisudo
ao mesmo tempo que é carismático, cruel ao mesmo tempo que é bondoso, e tem o
time certo da comédia e do sadismo.
Anya
Taylor-Joy também não decepciona, e
note que as expectativas sobre ela eram altas depois do sucesso de O Gambito
da Rainha, mas sua Margot acerta o tom e consegue não se deixar apagar pelo
personagem de Ralph.
Além
dos personagens e da trama, O Menu acerta novamente no quesito
fotografia e cenografia. A escolha dos tons escuros ajuda a criar um
restaurante chique e sombrio.
E
por falar nele, cada espaço do local foi pensado para ser o cenário de um
momento específico da história. O mérito fica para o designer de produção Ethan
Tobman, que já está habituado a criar ambientes fechados e relevantes, como
fez em O Quarto de Jack.
O
final: a sobremesa que o público merece
Ainda
fazendo trocadilhos com a comida, podemos dizer que o final do filme é como
tinha que ser: um banquete de morte e destruição. Como já era esperado, Margot
é a única sobrevivente desse jantar fatal, e isso se deve ao fato de ela ter
sido a única a conseguir se conectar verdadeiramente com o chef e entender seus
desejos.
Enquanto
todos ficaram imersos em seus egos, ela descobriu o que Slowik queria de
verdade e fez o pedido que foi a chave-mestre: um x-burguer com batatas fritas.
Assim, ela consegue se libertar e logo após vê o restaurante se incendiando com
todos dentro.
Vale
a pena assistir O Menu?
Com
um suspense crescente, bons momentos de tensão e uma pitada de comédia, O
Menu tem os ingredientes perfeitos para entregar um bom filme. E entrega. O
longa vale a pena não só pela trama, mas pelas boas atuações.
Vale
lembrar, no entanto, que o filme mostra cenas de suicídio e de multilação, por
isso, se esse tema for sensível para você, melhor procurar outro longa para
assistir.
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