segunda-feira, 28 de janeiro de 2013

Do prazer de Ler ao prazer de ler Veríssimo!



Ler poderia ser algo que as pessoas deveriam fazer por prazer, sempre. Infelizmente, no Brasil, a leitura não é ainda prioridade no desenvolvimento intelectual das nossas crianças e jovens. A maioria das escolas ainda não consegue desenvolver bem esse hábito no público infantil. Se bem que, nem de longe, essa pode ser considerada uma tarefa exclusiva dos professores. Outros espaços como a família tem também imensa responsabilidade.

No Brasil ainda temos um grande déficit na aquisição de livros pela população. De acordo com pesquisa divulgada pela Câmara Brasileira de Livros, em 2012, os números apontam que de 2009 a 2010 os brasileiros leram mais. Nesse período o número de livros vendidos teve um acréscimo de 8,3%. Para a CBL alguns fatores contribuem para esse aumento, entre eles o maior acesso da população à renda além do preço dos livros que, no período, teve um pequeno decréscimo. Esse é um dado que não pode ser desconsiderado, contudo ainda é pouco.

Todos concordam que a leitura torna as pessoas menos vulneráveis às falsas idéias e num país como o Brasil, onde a mídia ocupa um espaço cada vez mais solidificado na formação dos cidadãos, uma leitura de qualidade pode contribuir significativamente para a mudança de mentalidade dos nossos jovens influenciando-os na forma como vêem e pensam o mundo. Estimativas divulgadas pelo IBOPE apontam que o maior segmento de expectadores da TV brasileira são crianças e jovens que estão na faixa etária entre oito e quatorze anos. E no chamado horário nobre, aquele em que são exibidos os programas de maior audiência, algo em torno de 150 milhões de brasileiros estão em frente a um aparelho de TV. E, mais ainda, a programação do maior canal de audiência atinge atualmente 98% do território nacional. O IBOPE ainda mostra que a média de horas que o brasileiro fica em frente a TV é de três a quatro horas por dia.


Os dados apontados acima são totalmente contraditórios ao que apresento a seguir: de acordo com pesquisa divulgada em 2012 pela Associação Nacional de Livrarias existem, no Brasil, 3.481 livrarias. É fato que isso é o dobro do que existe na Argentina país onde a população é de pouco mais de 42 milhões. Nós somos pouco mais de 193 milhões. A pesquisa ainda mostra outro dado que considero grave: das 3.481 livrarias brasileiras, 1.751 delas, algo em torno de 50%, está concentrado no Sul e Sudeste. Das demais, apenas 586 estão distribuídas nos nove estados da região Nordeste. A mesma pesquisa aponta o RN com 31 livrarias, sendo 26 delas localizadas na capital, Natal.

Mesmo com o pouco incentivo à produção nacional, especialmente aos novos talentos, e aos autores locais, o que se percebe quando visitamos uma boa livraria é que existem muitos trabalhos, há excelentes obras no mercado. Há muitos títulos de autores nacionais e internacionais a nossa escolha. Há estilos literários para todos os gostos. Porém não adianta termos livrarias cheias dos grandes ícones da literatura e apenas uma parcela mínima da população ter acesso.


É necessário e urgente possibilitar o acesso da população à literatura e incentivar e garantir através de políticas de incentivo à cultura a produção de autores sejam eles locais, regionais ou nacionais. É fundamental que as escolas sejam lugares prioritários para o desenvolvimento do gosto pela boa leitura. Uma política de consumo que não apresente uma concepção de felicidade conquistada apenas no uso de bens produzidos pela indústria midiática também seria relevante. 
Bom, aqui já finalizando meus comentários sobre a necessidade e o prazer de ler, e aproveitando que muitos dos nossos leitores estão ainda vivendo em férias, já se organizando para o carnaval, peço permissão para sugerir uma obra de uma leitura muito leve, porém agradabilíssima e de ótima qualidade: Diálogos Impossíveis de Luiz Fernando Veríssimo.

Muitos conhecem Veríssimo – Autor por vezes polêmico, de frases fortes, é um dos mais completos da literatura brasileira. É escritor, cartunista, tradutor, roteirista de televisão, autor de teatro, romancista, além de músico. Nascido em 1936 na cidade de Porto Alegre (RS), já escreveu mais de 60 títulos, entre eles As mentiras que os homens contam, lançada em 2000. Apenas esse vendeu mais de 350 mil exemplares.


Filho do inesquecível Érico Veríssimo, (autor de Olhai os Lírios do Campo escrito em 1938) é considerado, por um dos principais veículos da mídia nacional, o escritor que mais vende livros no Brasil. Ao todo já foram mais de cinco milhões de exemplares. Em 2011 lançou Em algum lugar do Paraíso pela editora Objetiva. Em 2012, lança sua obra mais recente, Diálogos Impossíveis. Essa última, há onze semanas consecutivas, figura no 1º lugar dos mais vendidos na lista da revista Veja.

A leitura desse seu ultimo lançamento é extremamente leve e agradável, sem deixar, contudo, de ser provocante e aguçante. Com um teor existencialista Veríssimo escreve Diálogos impossíveis em pequenas crônicas. Nos diálogos, que acontecem entre diferentes e diversificados personagens fabulosos, o autor traz um humor fino e inteligente e não fica nisso. Os diálogos nos levam a surpreendentes reflexões, pois são metáforas postas de forma contraditória e humanamente instáveis.

A obra é, na verdade, um conjunto de crônicas que Veríssimo escreve nos anos de 2009 a 2011 para os jornais O estado de São Paulo e Zero Hora.

Para você que ainda não conhece apresento-lhe uma que considero muito interessante.

Revelações


A posteridade não é mais um lugar seguro. Com a nova liberalidade, principalmente em matéria de sexo, as biografias agora contam tudo. Biografia sem uma revelação antes desconhecida ou suprimida não tem graça, ou não é biografia. Até as autobiografias precisam incluir confissões reveladoras, para serem confiáveis.

Existe um livro que diz explicitamente o que todos já desconfiavam: que J. Edgar Hoover, eterno diretor do FBI, defensor da lei, da ordem e dos bons costumes, caçador de comunistas e um notório durão, ia a festas vestindo um tutu rodado. John Kennedy, sabe-se agora, jamais perguntava a americanas o que seu país poderia fazer por elas, mas o que elas poderiam fazer pelo seu país ali mesmo, em cima da mesa do Gabinete Oval.

Durante os anos Kennedy, a maior ameaça à segurança dos Estados Unidos era alguma moça disparar foguetes nucleares contra a União Soviética com sua bunda, sem querer.

(E quando os mísseis soviéticos começassem a cair sobre Washington em retaliação, se ouviria da Casa Branca a voz de Kennedy gritando: “My God, isto é o que eu chamo de orgasmo!”.)

Em breve saberemos que Cristóvão Colombo desembarcou no Novo Mundo de mãos dadas com um marinheiro.

Que Átila, o Flagelo de Deus, era secretamente chamado pelos seus comandados de Rainha dos Hunos e vivia maritalmente com seu cavalo. Que mesmo durante a guerra Winston Churchill continuou reunindo-se todas as quintas com ex-colegas de escola para relembrarem as festas no dormitório, inclusive com as ligas pretas. E que certa vez Charles de Gaulle foi convidado para a reunião, chocou-se com o que viu, mas no meio da noite já estava só de combinação.

Alguns detalhes históricos serão esclarecidos. Napoleão enfiava a mão dentro da túnica seguidamente para ajeitar o soutien. Stalin tinha um bigode cor de rosa para usar em ocasiões especiais. Monsieur e Madame Curie eram a mesma pessoa. O doutor Frankenstein inventou a história do monstro criado no seu laboratório para justificar aquele halterofilista morando com ele.

Etc. etc.



Uma boa semana para todos!











Gilberto Costta

3 comentários:

  1. Um excelente convite! Vou precisar ler esse. Valeu pela boa dica, professor Gilberto.

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  2. Olha, adorei esse post! Parabéns Dado, parabéns Gilberto! ;-))

    Grande beijo
    Michelle

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  3. Muito Bom. o Professor levantou questões que são sempre imperativas. e A dica de Leitura é mais do que perfeita para diversos gostos literários. Ótimo para o período de férias. Abraços!

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