segunda-feira, 24 de dezembro de 2018

Caixa de Pássaros - Crítica do Filme da NetFlix com Sandra Bullock

Malorie está grávida de uma relação que já terminou e vive um momento de incertezas. Como será sua maternidade? Deve manter a criança ou entregá-la para adoção? Será que ela consegue – ou, será que ela quer? – incorporar o papel de mãe? A artista plástica, no entanto, tem suas reflexões e suas dúvidas da maternidade interrompidas quando, ao lado de sua irmã, Jessica, observa o mundo inteiro ir à loucura.

Em diferentes lugares espalhados pelo mundo, as pessoas começam a tomar atitudes incompreensíveis. Expostas à luz, elas veem algo que ninguém sabe muito o que é, mas que faz com que desejem a morte e se suicidem das maneiras mais dolorosas, porém sem sentir nada.

A instigante história criada por Josh Malerman em seu best seller "Caixa de Pássaros" chegou ao catálogo da Netflix na forma de um longa-metragem dirigido por Susanne Bier (das séries The Night Manager e The Undoing) e com roteiro adaptado por Eric Heisserer, trazendo Sandra Bullock no papel da protagonista.

Em mais um belo trabalho de atuação, a atriz de "Gravidade" e "Um Sonho Possível" incorpora brilhantemente a personagem que, antes incerta de suas decisões e despreocupada ao lado da irmã, interpretada por Sarah Paulson, agora dá lugar a uma mãe destemida, que vai lutar com unhas e dentes, de venda sobre os olhos e tudo, para proteger sua prole.

Sandra Bullock consegue captar cada um dos diferentes momentos da personagem, o que faz toda a diferença para retratar também fases distintas na narrativa.

No elenco ao lado dela, estão nomes como John Malkovich, BD Wong, Trevante Rhodes, Rosa Salazar, David Dastmalchian, Parminder Nagra, Machine Gun Kelly, Tom Hollander e Jacki Weaver, que interpretam outros sobreviventes de um surto que fez com que boa parte da população fosse dizimada da face da Terra.

Suspenses dos sentidos

Na linha de Um Lugar Silencioso, suspense pós-apocalíptico que foi o grande sucesso do gênero nos cinemas em 2018, "Caixa de Pássaros" é outro filme que tem toda sua trama envolta nos sentidos. Enquanto o primeiro se passa em um universo no qual qualquer barulho, mesmo os mais leves e discretos sons, podem atrair criaturas assassinas, no segundo o responsável por espalhar o terror é uma força desconhecida e que permanece nas sombras.

Tudo o que os personagens – e o público – sabem é que não se deve abrir os olhos e olhar para a luz. Como lidar com um inimigo que não tem rosto? O brilhantismo do roteiro de "Caixa de Pássaros" que é trabalhado também com primazia no livro, talvez de uma forma ainda melhor elaborada nas páginas escritas, é justamente o mistério em torno do vilão. É uma força magnética? Uma criatura invisível? Um ser sobrenatural?

Malorie e os demais sobreviventes ficam, literalmente, no escuro. Para se proteger contra os efeitos deste inimigo desconhecido, todos só sabem de duas coisas: É preciso cobrir as janelas e bloquear qualquer entrada de luz e há uma única forma de saber que algo se aproxima: os pássaros.

Para garantir a subsistência, eles só conseguem sair de casa se estiverem vendados – o que faz com que o filme se torne quase um "Ensaio Sobre a Cegueira", mas sem toda a dose de reflexão sobre o mundo e a cegueira social proposta por José Saramago em seu livro/filme.
A trilha sonora típica de suspense e a estética que trabalha muito em cima dos jogos de luz e da iluminação indireta sobre os ambientes também contribuem para ajudar a construir o clima do filme, que consegue envolver o espectador no desenrolar da trama, contada de forma não linear, mesclando passado e presente para, aos poucos, fazer com que o espectador entenda como Malorie chegou onde chegou.

Mesmo com todas as diferenças de linguagem entre os dois meios, o filme consegue se bastante fiel à proposta da história original contada no livro de Malerman, fazendo apenas algumas poucas e justas adaptações para tornar certos aspectos mais ou menos evidentes, mas nada que cause estranhamento para os leitores mais apegados à obra escrita.


Apesar disso, no entanto, quem desfrutou cada uma das páginas do livro pode sentir que, na tela, a história se desenrola apressadamente, quase demais. Alguns fatos que consomem horas e horas de leitura e que, no livro, fazem com que os espectadores percebam com muito mais intensidade a passagem do tempo, são visitados muito brevemente no longa-metragem da Netflix – necessário, se a intenção era contar toda a história em menos de duas horas, porém um pouco atropelado.

NOTA: 70

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