terça-feira, 22 de maio de 2018

Interview with... Pedro Balduino

O Ponto Zzero traz, após 4 anos, nova entrevista com o pintor, escultor, videoartista, escritor e fotógrafo, Pedro Balduino, para alegria dos norte-rio-grandense de plantão.

Artista plástico desde 2005, professor de desenho e pintura desde 2007, Pedro já atuou como mediador e expositor em galerias e festivais de cinema de vários estados do Brasil e em 2011 fundou a Império A.A. e Império Filmes, duas microempresas de fomento e produção artísticas/audiovisuais na cidade de Natal/RN. Em 2015 lançou o livro “Os Mongos Estão Levando as Nossas Coisas” pela Fortunella Casa Editrice, mostrando que hoje, levemente afastado do ramo da produção cultural, foca mais seu trabalho em criações autorais.

Página: pedrobalduinoart.wordpress.com
E-mail: balduino.pedro@gmail.com
Twitter: @PedroBalduino_
Instagram: @PedroBalduinoArt
Face: /PedroBalduinoArt
PZ: Quem é Pedro Balduino?
Vamos respondendo as perguntas aqui e se um de nós dois descobrir quem é, avisa o outro. Mas sei que sou artista e a amplitude dessa definição me caracteriza muito, profissionalmente e intimamente.

PZ: Quatro anos após nossa última entrevista, o que mudou em seu trabalho?
Bastante coisa. Eu diria que tenho um estilo visual mais maduro em trabalhos plásticos, mais sombrio e menos infantil. Eu buscava esse resultado mesmo naquele tempo, mas agora sinto estar mais afinado. Sempre disseram que mesmo meus trabalhos para crianças eram um tanto “sinistros” e eu gosto pois mostra que eu realmente estou nessa busca por densificar a imagem com sentimentos mais profundos. Outra coisa que mudou é que naquele tempo eu ainda insistia em fazer cinema mainstream e hoje me descobri, no ramo do audiovisual, como videoartista.

PZ: Quais são as mensagens do seu trabalho?
Eu gosto da ideia de que a arte é uma manipulação da natureza com intuito de provocar e movimentar sentimentos bons e ruins. Minha prática artística é muito mágica neste sentido e eu realmente tento expôr que toda essa coisa de pintar, escrever, é tudo muito simples mas detêm um poder enorme. Eu tento dizer muita coisa com a arte mas a máxima é deixar qualquer tipo de fisgada em quem consome, um sorriso, um aperto no peito. Meus trabalhos com vídeo, por exemplo, são mais íntimos e eu apelo bastante para sentimentos não tão agradáveis como culpa, medo e tensão. Os trabalhos plásticos costumam ir por um lado mais “bonito”, a arte sequencial com histórias que buscam sorrisos e ternura ou as fanartes de filmes, livros e séries que, pra mim, são um caminho para adquirir proximidade com o público. Filmes, livros e séries se tornam tão íntimos com o tempo.
PZ: Quais artistas potiguares têm despertado seu interesse nesse último ano?
Gosto bastante do som da BEX (soundcloud.com/bexxx999), ela é jovem e tem um som muito maduro e, ao mesmo tempo, descontraído. E gosto das colagens de uma mina chamada Amanda que assina como BlackScissors (instagram.com/blackscissors.jpg) que tem um trampo muito iconograficamente evoluído e segue uma linha de estilo interessante em colagem analógica. E, claro, sou apaixonado no trabalho da Ana Mendes (fb.com/erroerrante) que é escritora, minha amiga e que já fizemos parcerias juntos. Eu não tenho uma gota de paciência pra poesia, mas a poesia da Ana me desajusta o coração toda vez, tem um poder mágico bem próximo do que busco na arte e eu me identifico demais com isso.

PZ: Quais são suas influências e o que você mais gosta na cultura pop?
Eu sou um puto pelo trabalho do David Lynch, especialmente Twin Peaks. Acredito que muito do que eu busco trazer nos meus trabalhos sobre estar confortável na identificação com o lado sombrio da nossa personalidade é uma referência ao trabalho onírico do Lynch. Gosto também de dois David’s: o Cronemberg e o Mckean que estão sempre visíveis como referências do que faço. Ouço muito Carter Burwell, The Chromatics e Johnny Jewell. São sons que me despertam imagens muito interessantes. Nas artes plásticas eu ando gostando muito dos trabalhos do Guim Tió e da Carla Fuentes que caminham bastante por referências pop.

PZ: Como desenvolveu seu estilo?
A pergunta é boa por que estou, justo agora, trabalhando na programação de um curso sobre desenvolvimento de estilo que vou ministrar em Minas Gerais daqui a alguns meses. O processo é o mesmo de todo artista: observar muito o que eu gosto e o que me toca na arte dos outros, depois copiar a arte dos outros a exaustão, podar o que, no trabalho alheio, não funciona pra mim e depois polir, lapidar o que sobrou, uma mistura de diversos estilos alheios que agora tem um rosto próprio. Nesse meio você se depara com caos e contradições e briga contra algumas inseguranças, mas tudo faz parte. Como diria o Dali: “aqueles que não querem imitar nada, não produzem nada”. 


PZ: O que te motiva a criar?
Estar vivo e não ser um vegetal é o suficiente para que eu me sinta na obrigação de criar. É um estado de consciência e de responsabilidade com o mundo. Saber que eu posso inspirar criações em outros também é um combustível potente.
PZ: Como um admirador de sua arte, percebi que ao longo dos quatro anos você veio aperfeiçoando sua técnica. Como se deu essa evolução?
Quando você trabalha todo santo dia com isso e não consegue olhar para as coisas com os olhos dessensibilizados, chega a ser chato, mas você evolui, se transforma. A arte só permanece a mesma se ela não é desafiada à exaustão. Você cria algo, gosta daquilo, repete, cansa e o cansaço te desperta para algo novo, fica assim até você (ou sua força de vontade) morrer.

PZ: Além dos desenhos, sua arte se tornou popular pelas caricaturas e através de sua página. Como acredito que as técnicas têm demandas diferentes, no futuro você pretende dar mais atenção para qual delas?
Eu estou muito empolgado com os livros. Pretendo fazer mais quadrinhos, livros ilustrados e explorar mais a pintura. A literatura ilustrada é, de fato, minha principal especialidade, na qual tenho alguma bagagem e segurança absoluta para criar e falar sobre. Vou pelo caminho seguro.
PZ: O que pretende conquistar com sua arte que ainda não conquistou?
Dinheiro. O resto vem e vai, toda a satisfação existencial, o regozijo poético, o reconhecimento dos fãs (risos) estão implícitos no processo. O que eu quero conquistar é dinheiro. Brincadeiras à parte, acho que é papel fundamental de todo artista trabalhar no seu público a conscientização de que arte é um trabalho e que se você gosta e acredita naquilo, deve apoiar o artista de alguma forma (dica para quem está lendo: dinheiro apoia bem, apoia bonito).

PZ: Seus trabalhos têm alguma posição política? Você é libertário, progressista ou conservador?
Sim, toda arte é política, não tem para onde fugir (e é preferível que não se tente fugir). Sou libertário, mas não sou liberal, é bom deixar claro (risos). Me identifico muito mais com a política de esquerda, mas abomino o extremismo e não tolero a intolerância (tal qual o paradoxo do Popper). Na arte/vida a palavra-chave é a tolerância, a assunção da diferença e o respeito por isso.

PZ: Você pretende fazer uma exposição de suas obras em 2018/2019?
Definitivamente. Estou conversando com algumas galerias no Rio de Janeiro e é tudo certo que algo vai acontecer.

PZ: Você pensa em utilizar mais de novas linguagens, como a digital?
Eu trabalho com arte digital desde 2010 então, pra mim, já é uma velha linguagem. Mas tenho pretensões, sim, de trabalhar novas linguagens como a videoarte em machinima a partir de jogos digitais autorais. Acho que o machinima é o que há de mais potente em videoarte, hoje, mas ainda me incomoda o visual, a falta de uma assinatura e estilo. Tenho vontade de experimentar esse caminho, em algum momento.

PZ: Qual foi o trabalho que mais mexeu com seu ego?
É uma confusão trabalhar com arte e ter que assumir que você é o melhor dos melhores naquilo que você faz para poder ser minimamente reconhecido e recompensado. Eu não sou o melhor dos melhores em nada, mas tenho que passar essa ideia o tempo todo. Todos os trabalhos acabam mexendo com meu ego, de alguma forma (nem sempre positivamente). Os trabalhos que fiz para a Editora Fortunella são os que sinto mais orgulho pois são os que posso dizer sem gaguejar que ficaram todos muito bons e cumpriram seu papel. Mas não sei se o meu editor diria o mesmo, provavelmente não (risos).
PZ: Qual conselho você pode dar pra quem quer criar arte?
Um dos maiores problemas dos artistas é não saber muito bem o que está fazendo e isso se deve muito a essa loucura das exposições em redes sociais que estamos aprendendo a lidar, muita facilidade em expor o próprio trampo dá a impressão de que é fácil fazer arte. Artistas que trabalham com aquarela sem saber o que é uma têmpera, artistas que trabalham com impressões sem saber a diferença entre prints e gravuras digitais, videoartistas que não sabem a diferenças entre filme e vídeo. Tudo anda muito raso e isso é um inferno de chato. O público, que não tem hábito de consumo, acaba não sabendo diferenciar arte bem-feita de arte mal-feita (o que não é o mesmo que arte boa e arte ruim). Entender todas as etapas do seu papel estético-filosófico com a arte é fundamental. Sugiro lutar contra a resistência ao aprofundamento e isso tem muito a ver com sensibilidade, ser sensível. Equilibrar a autocrítica é fundamental, também. Todo mundo vai te elogiar como quem elogia um desenho bobo de criança. Se o artista não for o seu maior crítico, não sai do lugar. Mas não pode ser autocrítico demais, também, se não morre. É muita coisa pra estar atento. Fazer arte dá trabalho. Se estiver fácil, não está bom.

PZ: Pra finalizar, quais são seus projetos futuros?
Esse ano o meu projeto mais importante é o lançamento do novo livro “Uma Carta Para Mim” pela editora Fortunella Casa Editrice, um infantil ilustrado que conta a história de uma menina que recebe uma carta com uma mensagem muito importante. Pretendo também lançar mais séries de fotografias do projeto “Áspero Inverno” e um novo capítulo anual da web-série “INVERNO”. Vou ministrar um curso de desenho para iniciantes em Duque de Caxias, no Rio de Janeiro, outro curso de desenvolvimento de estilo artístico para artistas, em Minas Gerais e, talvez, um curso de criação do livro ilustrado em São Paulo, mas este último ainda está em aberto. Estou engajado num álbum de ilustrações muito interessante que foi encomendado pela editora Fortunella e que tem potencial para ser o meu trabalho mais pop até agora, tá ficando bem bonito, mas é para um futuro um tantinho mais distante e, por isso, vou segurar a vontade de sair contando do que se trata, vou manter em segredo… por enquanto.

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