O Ponto Zzero traz, após 4 anos, nova
entrevista com o pintor, escultor, videoartista, escritor e fotógrafo, Pedro Balduino, para alegria dos
norte-rio-grandense de plantão.
Artista
plástico desde 2005, professor de desenho e pintura desde 2007, Pedro já atuou
como mediador e expositor em galerias e festivais de cinema de vários estados
do Brasil e em 2011 fundou a Império
A.A. e Império Filmes, duas
microempresas de fomento e produção artísticas/audiovisuais na cidade de
Natal/RN. Em 2015 lançou o livro “Os
Mongos Estão Levando as Nossas Coisas” pela Fortunella Casa Editrice, mostrando que hoje, levemente afastado do
ramo da produção cultural, foca mais seu trabalho em criações autorais.
Página:
pedrobalduinoart.wordpress.com
E-mail: balduino.pedro@gmail.com
Twitter: @PedroBalduino_
Instagram: @PedroBalduinoArt
Face: /PedroBalduinoArt
E-mail: balduino.pedro@gmail.com
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Instagram: @PedroBalduinoArt
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PZ: Quem é Pedro Balduino?
Vamos respondendo as perguntas aqui e se
um de nós dois descobrir quem é, avisa o outro. Mas sei que sou artista e a
amplitude dessa definição me caracteriza muito, profissionalmente e
intimamente.
PZ: Quatro anos após nossa última
entrevista, o que mudou em seu trabalho?
Bastante coisa. Eu diria que tenho um
estilo visual mais maduro em trabalhos plásticos, mais sombrio e menos
infantil. Eu buscava esse resultado mesmo naquele tempo, mas agora sinto estar
mais afinado. Sempre disseram que mesmo meus trabalhos para crianças eram um
tanto “sinistros” e eu gosto pois mostra que eu realmente estou nessa busca por
densificar a imagem com sentimentos mais profundos. Outra coisa que mudou é que
naquele tempo eu ainda insistia em fazer cinema mainstream e hoje me descobri,
no ramo do audiovisual, como videoartista.
PZ: Quais são as mensagens do seu
trabalho?
Eu gosto da ideia de que a arte é uma
manipulação da natureza com intuito de provocar e movimentar sentimentos bons e
ruins. Minha prática artística é muito mágica neste sentido e eu realmente
tento expôr que toda essa coisa de pintar, escrever, é tudo muito simples mas
detêm um poder enorme. Eu tento dizer muita coisa com a arte mas a máxima é
deixar qualquer tipo de fisgada em quem consome, um sorriso, um aperto no
peito. Meus trabalhos com vídeo, por exemplo, são mais íntimos e eu apelo
bastante para sentimentos não tão agradáveis como culpa, medo e tensão. Os
trabalhos plásticos costumam ir por um lado mais “bonito”, a arte sequencial
com histórias que buscam sorrisos e ternura ou as fanartes de filmes, livros e
séries que, pra mim, são um caminho para adquirir proximidade com o público.
Filmes, livros e séries se tornam tão íntimos com o tempo.
PZ: Quais artistas potiguares têm
despertado seu interesse nesse último ano?
Gosto bastante do som da BEX
(soundcloud.com/bexxx999), ela é jovem e tem um som muito maduro e, ao mesmo
tempo, descontraído. E gosto das colagens de uma mina chamada Amanda que assina
como BlackScissors (instagram.com/blackscissors.jpg) que tem um trampo muito
iconograficamente evoluído e segue uma linha de estilo interessante em colagem
analógica. E, claro, sou apaixonado no trabalho da Ana Mendes
(fb.com/erroerrante) que é escritora, minha amiga e que já fizemos parcerias
juntos. Eu não tenho uma gota de paciência pra poesia, mas a poesia da Ana me
desajusta o coração toda vez, tem um poder mágico bem próximo do que busco na
arte e eu me identifico demais com isso.
PZ: Quais são suas influências e o que
você mais gosta na cultura pop?
Eu sou um puto pelo trabalho do David
Lynch, especialmente Twin Peaks. Acredito que muito do que eu busco trazer nos
meus trabalhos sobre estar confortável na identificação com o lado sombrio da
nossa personalidade é uma referência ao trabalho onírico do Lynch. Gosto também
de dois David’s: o Cronemberg e o Mckean que estão sempre visíveis como
referências do que faço. Ouço muito Carter Burwell, The Chromatics e Johnny
Jewell. São sons que me despertam imagens muito interessantes. Nas artes
plásticas eu ando gostando muito dos trabalhos do Guim Tió e da Carla Fuentes
que caminham bastante por referências pop.
PZ: Como desenvolveu seu estilo?
A pergunta é boa por que estou, justo
agora, trabalhando na programação de um curso sobre desenvolvimento de estilo
que vou ministrar em Minas Gerais daqui a alguns meses. O processo é o mesmo de
todo artista: observar muito o que eu gosto e o que me toca na arte dos outros,
depois copiar a arte dos outros a exaustão, podar o que, no trabalho alheio,
não funciona pra mim e depois polir, lapidar o que sobrou, uma mistura de
diversos estilos alheios que agora tem um rosto próprio. Nesse meio você se
depara com caos e contradições e briga contra algumas inseguranças, mas tudo
faz parte. Como diria o Dali: “aqueles que não querem imitar nada, não produzem
nada”.
PZ: O que te motiva a criar?
Estar vivo e não ser um vegetal é o
suficiente para que eu me sinta na obrigação de criar. É um estado de
consciência e de responsabilidade com o mundo. Saber que eu posso inspirar
criações em outros também é um combustível potente.
PZ: Como um admirador de sua arte,
percebi que ao longo dos quatro anos você veio aperfeiçoando sua técnica. Como
se deu essa evolução?
Quando você trabalha todo santo dia com
isso e não consegue olhar para as coisas com os olhos dessensibilizados, chega
a ser chato, mas você evolui, se transforma. A arte só permanece a mesma se ela
não é desafiada à exaustão. Você cria algo, gosta daquilo, repete, cansa e o
cansaço te desperta para algo novo, fica assim até você (ou sua força de
vontade) morrer.
PZ: Além dos desenhos, sua arte se tornou
popular pelas caricaturas e através de sua página. Como acredito que as
técnicas têm demandas diferentes, no futuro você pretende dar mais atenção para
qual delas?
Eu estou muito empolgado com os livros.
Pretendo fazer mais quadrinhos, livros ilustrados e explorar mais a pintura. A
literatura ilustrada é, de fato, minha principal especialidade, na qual tenho
alguma bagagem e segurança absoluta para criar e falar sobre. Vou pelo caminho
seguro.
PZ: O que pretende conquistar com sua
arte que ainda não conquistou?
Dinheiro. O resto vem e vai, toda a
satisfação existencial, o regozijo poético, o reconhecimento dos fãs (risos)
estão implícitos no processo. O que eu quero conquistar é dinheiro.
Brincadeiras à parte, acho que é papel fundamental de todo artista trabalhar no
seu público a conscientização de que arte é um trabalho e que se você gosta e
acredita naquilo, deve apoiar o artista de alguma forma (dica para quem está
lendo: dinheiro apoia bem, apoia bonito).
PZ: Seus trabalhos têm alguma posição
política? Você é libertário, progressista ou conservador?
Sim, toda arte é política, não tem para
onde fugir (e é preferível que não se tente fugir). Sou libertário, mas não sou
liberal, é bom deixar claro (risos). Me identifico muito mais com a política de
esquerda, mas abomino o extremismo e não tolero a intolerância (tal qual o
paradoxo do Popper). Na arte/vida a palavra-chave é a tolerância, a assunção da
diferença e o respeito por isso.
PZ: Você pretende fazer uma exposição de
suas obras em 2018/2019?
Definitivamente. Estou conversando com
algumas galerias no Rio de Janeiro e é tudo certo que algo vai acontecer.
PZ: Você pensa em utilizar mais de novas
linguagens, como a digital?
Eu trabalho com arte digital desde 2010
então, pra mim, já é uma velha linguagem. Mas tenho pretensões, sim, de
trabalhar novas linguagens como a videoarte em machinima a partir de jogos
digitais autorais. Acho que o machinima é o que há de mais potente em
videoarte, hoje, mas ainda me incomoda o visual, a falta de uma assinatura e
estilo. Tenho vontade de experimentar esse caminho, em algum momento.
PZ: Qual foi o trabalho que mais mexeu
com seu ego?
É uma confusão trabalhar com arte e ter
que assumir que você é o melhor dos melhores naquilo que você faz para poder
ser minimamente reconhecido e recompensado. Eu não sou o melhor dos melhores em
nada, mas tenho que passar essa ideia o tempo todo. Todos os trabalhos acabam
mexendo com meu ego, de alguma forma (nem sempre positivamente). Os trabalhos
que fiz para a Editora Fortunella são os que sinto mais orgulho pois são os que
posso dizer sem gaguejar que ficaram todos muito bons e cumpriram seu papel.
Mas não sei se o meu editor diria o mesmo, provavelmente não (risos).
PZ: Qual conselho você pode dar pra quem
quer criar arte?
Um dos maiores problemas dos artistas é
não saber muito bem o que está fazendo e isso se deve muito a essa loucura das
exposições em redes sociais que estamos aprendendo a lidar, muita facilidade em
expor o próprio trampo dá a impressão de que é fácil fazer arte. Artistas que
trabalham com aquarela sem saber o que é uma têmpera, artistas que trabalham
com impressões sem saber a diferença entre prints e gravuras digitais,
videoartistas que não sabem a diferenças entre filme e vídeo. Tudo anda muito
raso e isso é um inferno de chato. O público, que não tem hábito de consumo,
acaba não sabendo diferenciar arte bem-feita de arte mal-feita (o que não é o
mesmo que arte boa e arte ruim). Entender todas as etapas do seu papel
estético-filosófico com a arte é fundamental. Sugiro lutar contra a resistência
ao aprofundamento e isso tem muito a ver com sensibilidade, ser sensível.
Equilibrar a autocrítica é fundamental, também. Todo mundo vai te elogiar como
quem elogia um desenho bobo de criança. Se o artista não for o seu maior
crítico, não sai do lugar. Mas não pode ser autocrítico demais, também, se não
morre. É muita coisa pra estar atento. Fazer arte dá trabalho. Se estiver
fácil, não está bom.
PZ: Pra finalizar, quais são seus
projetos futuros?
Esse ano o meu projeto mais importante é
o lançamento do novo livro “Uma Carta Para Mim” pela editora Fortunella Casa
Editrice, um infantil ilustrado que conta a história de uma menina que recebe
uma carta com uma mensagem muito importante. Pretendo também lançar mais séries
de fotografias do projeto “Áspero Inverno” e um novo capítulo anual da
web-série “INVERNO”. Vou ministrar um curso de desenho para iniciantes em Duque
de Caxias, no Rio de Janeiro, outro curso de desenvolvimento de estilo
artístico para artistas, em Minas Gerais e, talvez, um curso de criação do
livro ilustrado em São Paulo, mas este último ainda está em aberto. Estou
engajado num álbum de ilustrações muito interessante que foi encomendado pela
editora Fortunella e que tem potencial para ser o meu trabalho mais pop até
agora, tá ficando bem bonito, mas é para um futuro um tantinho mais distante e,
por isso, vou segurar a vontade de sair contando do que se trata, vou manter em
segredo… por enquanto.
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