quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Dentro e fora d’As crônicas de Gelo e Fogo | Uma breve análise .histórica. de Guerra dos Tronos.


Insubmissos, Não Curvados, Não Quebrados.


A criação literária depende muito da imaginação, só que essa imaginação é agregada a diversos fatores presentes na vida do autor. Desde diálogos e relacionamentos, à moral e pensamentos. Portanto, não é “apenas” um simples contar de história, totalmente estruturada de forma coerente e com personagens chamativos, é também um diálogo entre dentro e fora da obra, de acordo com a experiência de quem a escreve.

A obra de fantasia de George R. R. Martin (tem como não amar?) se passa em Westeros. Reino fictício, dividido em sete reinos: o Reino do Norte (STARK), o Reino do Vale e do Céu (ARRYN), Reino dos Rios (TULLY), tridente e as Ilhas de Ferro (GREYJOY), Reino das Terras do Oeste (LANNISTER), Reino de Pedra do Dragão (BARATHEON, Stannis), Reino de Ponta Tempestade (BARATHEON, Renly), o Reino de Dorne (MARTELL) e as Campinas (TYRELL), que passou a fazer parte do Reino de Westeros dois séculos após a conquista, devido ao casamento do príncipe Rhaegar com a Princesa Elia de Dorne. E, no fim de tudo, Robert Baratheon como Rei de todos os Sete.

Westeros passa por uma paz de 17 anos. Mas, para chegar nessa “calmaria”, precisaram tomar o reino das mãos dos Targaryen (Rei Aerys II – Rei Louco). O fim do antigo regime representa a ideia de ruptura de período e outro, onde essa ruptura quebra normalidade de acontecimentos costumeiros e prevê um período melhor a partir do novo sistema – tal como a revolução francesa pretendia (de acordo com os interesses de quem a realizou a troca de regime, no caso a burguesia).


Assim como na vida real, Westeros é teista, de modo que os deuses cultuados “oficialmente” são sete. Porém, essa religião, assim como as mais difundidas para nós hoje, tem um cunho mais monoteísta. Cada deus tem serventia para algum processo e rito diferente do outro, mas que segundo a tradição, eles são um só, criador e protetor [o interessante é que eles não se intrometem nos assuntos dos homens, guerra, fome etc]. Uma mistura entre cristianismo e mitologia, a diferença é que, na mitologia, os deuses “tomavam” partido perante as guerras. Isso é claro, baseado na bandeira que o exército levantava. Porém, também relaciona com a fé cristã medieval, onde os Ândalos, quando chegam em Westeros e impunham sua religião, perseguem os filhos da floresta e destroem os Represeiros e Árvores coração dos filhos da floresta, por não ser a religião tida como “correta” a partir de agora naquelas terra. Tal como a inquisição fazia.

Sem contar que: sete são os deuses, sete são os reinos, sete são os cavaleiros da guarda real, sete é tido como um número da sorte fora da ficção. Essa fé, como religião oficial, está intimamente ligada com toda a moral, ética, costumes e receios dos personagens da série. Porém, o universo ficcional de George R. R. Martin, ainda conta, além dos sete com os “deuses antigos”, o “deus da luz” e “deus da escuridão” e, por fim, o deus afogado. Essas três outras religiões representam três diferentes visões de mundo que identificamos fora da literatura, onde, os deuses antigos são as forças da natureza, sobrenaturais e que estão por toda parte. O deus da luz e o deus da escuridão, representando a luta eterna entre o bem e o mal, a crença no senhor da luz mostra um embate enorme, de forma maniqueísta entre o bem supremo e o mal supremo. O deus afogado é, digamos que interpretativo, pois fora o lema da Casa Greyjoy (o que está morto não pode morrer), não apresenta índole.

Nos Sete Reinos dizia-se que a Muralha marcava o fim do mundo. Isso também é verdade para eles. Tudo dependia do lado em que se estava. (JON SNOW – A Tormenta das Espadas)

A muralha é tida explicitamente como a divisão de dois mundos completamente distintos: o selvagem e o civilizado. Fazendo um paralelo de dentro pra fora. O mundo civilizado seria a imposição da cultura, tendo em vista que o mundo selvagem, tido como errado pelo civilizado, ainda sim é questionado durante a obra, com a questão: Afinal, quem são os selvagens? A muralha é a divisão das classes, o povo livre contra os dobradores de joelhos, onde o povo livre é democrático, mas ainda sim traz consigo um líder, já que é necessário alguém que julgue. Porém, os “dobradores de joelho” tem disciplina, coisa que os “selvagens” não tem, e em alguns pontos do texto, isso é tido basicamente como fator crucial para a sobrevivência, tanto na guerra como no cotidiano. Isso indica que o método de controle de moral e obediência é apresentado como mais eficaz em auxilio da vida no reino.

Na série de TV, na primeira temporada (não me perguntem o Ep.) Tyrion afirma que: Não se sabe quem é de fato o selvagem, tanto faz o lado da muralha, a única sorte dele é que nasceu deste. No caso, isso também indicaria que o modelo de vida, com certo conforto e, algum consumo, é assumido como melhor. Porém, melhor para Tyrion, que tem um pai que “caga ouro”. Continuando na relação de dentro e fora da obra, essa afirmação, além de indicar o padrão de vida considerado adequado, também indica a hierarquia social, já que os camponeses na obra, quase sempre são apresentados de forme miserável.

Se pudermos ver as religiões, hierarquias e considerações de classe de Westeros como fundamentos para um diálogo, como âmbitos interpretativos, com significâncias e reproduções culturais, formaremos um diálogo imenso entre obra e realidade, e não só aqui, mas em qualquer obra, ou qualquer filme. Claro que não é possível que eu, esse coitado que sou, faça uma análise assim sobre toda a obra de George. Afinal, só li quatro livros e os detalhes, ou demônios como chama George, são imensos. Portanto tratei daqueles que considero mais interessantes perante os personagens que mais gosto. A análise é breve, mas serve para dar um gostinho do complexo mundo criado por Martín e a relação com o nosso. Quem sabe, num futuro, não aconteça uma série mais detalhada 

“A maior parte de nós não é tão forte. O que é a honra comparada com o amor de uma mulher? (…) Vento e palavras. Vento e palavras. Somos apenas humanos e os deuses nos moldaram para o amor. Esta é a nossa grande glória e a nossa grande tragédia”. ( A Guerra dos Tronos – pág. 467).

Por Gabriel Barbosa
Para o site Literatortura

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