Se
os super-heróis tomam contam dos cinemas nos últimos meses, as comédias
românticas adolescentes estão com os dias garantidos na Netflix. Com o declínio do público nas salas de cinemas, o gênero
sobrevive via streaming entre sucessos - vide Para Todos os Garotos que Já Amei (2018) e Barraca de Beijos (2018) - e fracassos - O Date Perfeito (2019) e Sierra
Burgess é uma Loser (2018).
Encabeçado
por jovens atores talentosos, Nosso
Último Verão (The Last Summer), lançado dia 3 de maio na Netflix, tenta ser uma espécie de
"lições sobre os últimos 72 dias
antes do início da vida adulta na universidade". Com uma miscelânea de
personagens, os irmãos Scott Bindley
e William Bindley tentam criar uma
narrativa semelhante a de Noite de Ano
Novo (2001) e Idas e Vindas do Amor
(2010), no entanto, ao invés de 24h na vida de cada personagem, os roteiristas
tentam construir um circuito de aprendizagem durante três meses.
Diferente
dos projetos de histórias paralelas que se cruzam na parte final e estão
ligadas pela temática, Nosso Último
Verão não conecta os personagens a não ser pelo aspecto de todos terem freqüentado
a mesma escola na cidade de Chicago. Há, entretanto, uma exceção, o
protagonista Griffin (K.J. Apa, da
série Riverdale), vindo de uma
escola preparatória em outra cidade e disposto finalmente a tentar uma chance
com o seu interesse amoroso Phoebe (Maia
Mitchell).
Entre
a história principal de Griffin e Phoebe, há ainda o casal Alec (Jacob Latimore) e Erin (Halston Sage), o qual decide
prematuramente separar-se, já que eles vão para universidades diferentes no fim
do verão. Ele engata um romance com a fútil, rica e bonita Paige (Gage Golightly), enquanto a menina se
envolve com um famoso jogador de baseball (Tyler
Posey). Ambos têm amigos próximos com seus dilemas pessoais, Audrey está na
dúvida entre ir para faculdade e começar um trabalho de assistente pessoal, de
outro lado está o atlético Foster (Wolfgang
Novogratz) com uma lista de garotas, as quais deseja conquistar até o
último dia de férias.
Correndo
por fora, ainda temos os dois amigos nerds Reece (Mario Revolori) e Chad (Jacob
McCarthy), atendentes de uma lanchonete que decidem vestir paletó e
gravata, e passar por corretores de seguros em bares, assim eles bebem álcool e
conhecem mulheres de vinte e poucos anos. As questões apresentadas parecem ter
saído das comédias adolescentes dos anos 80, consequentemente, a falta de
conexão com indagações atuais e personalidades mais engajadoras reflete como
uma falha de autenticidade da narrativa.
Nosso
Último Verão representa uma grande homenagem ao gênero de 30 anos atrás,
fazendo referência direta ao filme Gatinhas
e Gatões (1984), no entanto, dispensa a oportunidade de acrescentar algo
novo à narrativa de jovens desta era e os seus reais obstáculos ao enfrentarem
a vida adulta. Além de pouca relevância dos assuntos abordados, o percurso do
casal principal é decepcionante. Eles têm química, conseguem destacar-se em
bonitas cenas, mas os seus entraves são desalinhados, risíveis e surgem como
uma pedra forçada no meio do caminho.
Embora
o roteiro tente construir momentos de tenacidade, principalmente entre Audrey e
a garotinha prodígio Lilah (Audrey Grace
Marshall), o resultado é fosco e não transmite uma mensagem abrangente ao
público. Ainda temos o conquistador Foster como um dos mais irritantes plots,
que na reta final ganha uma reviravolta e alguma consideração, mas não o suficiente
para entender sua participação na engrenagem do filme.
Por
fim, Nosso Último Verão pretendia
ser um apanhado de histórias de transição, com humor e romance, contudo os
enredos são inocentes e nada realísticos. Já como entretenimento também deixa a
desejar ao não evocar nenhum pensamento contemporâneo sobre amadurecimento ou
ironizar os estereótipos da nossa última geração.
Ao
assistir Nosso Último Verão, é
instantâneo o saudosismo de boas comédias adolescentes dos anos 80 e 90 sobre o
fim dos anos escolares, tal como Jovens,
Loucos e Rebeldes (1993), Mal Posso Esperar (1998) e o romance Digam o que Quiserem (1989). Em outras
palavras, os irmãos Bindley miraram nos clássicos, no entanto, acertaram em um
roteiro de desencontros e personagens enfastiantes.
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