sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Todos os Garotos que Já Amei - Filme

O pior pesadelo de qualquer adolescente acontece com Lara Jean (Lana Condor) na metade inicial de Para Todos os Garotos que Já Amei (To All the Boys I’ve Loved Before, 2018): seus sentimentos mais íntimos e pessoais acabam expostos. Introvertida e insegura, ela costuma desabafar esses sentimentos em cartas que escreve para os meninos pelos quais já foi apaixonada ou ainda é. Nesse universo jovem que a Netflix adapta do best-seller homônimo que foi sensação teen mundo afora, todas as emoções estão à flor da pele e exprimidas em tinta e papel.
A beleza de Para Todos os Garotos que Já Amei está na simplicidade e sinceridade com que trata seus personagens, principalmente a protagonista, defendida com garra pela carismática Lana Condor. Mesmo configurado dentro dos tipos mais óbvios do universo american high school de sempre, com o grupo de personagens populares, esquisitos, ricos, pobres, nerds etc., o filme consegue conferir humanidade para além das tipificações e estereótipos, mesmo que não se aprofunde muito em cada um deles. A própria Lara Jean combate um pouco desses clichês pela escalação de uma atriz fora de qualquer padrão de beleza e personalidade pregado pelo cinema jovem americano.

O formato quase epistolar e confessional do material original acaba ocasionando um inevitável problema de roteiro no processo de adaptação, com muitas narrações em off descrevendo os sentimentos que Lara Jean confessa nas suas cartas, e deixando pouco espaço para momentos de silêncio e reflexão, tão necessários para o desenrolar do desenvolvimento dos personagens. Por outro lado, a direção criativa compensa em alguns momentos inspirados que valorizam os sentimentos dos personagens, como no plano aberto de Lara Jean chegando de bicicleta na lanchonete, quando ela se sente mais sozinha e desesperada do que nunca.


Como quase todo filme do segmento, Para Todos os Garotos que Já Amei trata em suma dos momentos de transição, da necessidade do crescer, do desapegar, do se apaixonar, e principalmente o de desabafar. Se temos na figura de Lara Jean uma personagem tão cheia de dificuldades de estabelecer comunicações com as pessoas ao seu redor, o filme faz questão de mostrar que todos os demais também compartilham desse desafio. Seja Peter (Noah Centineo), o garoto popular e aparentemente superficial que guarda a dificuldade de expressar as dores do abandono paterno; seja Josh (Israel Broussard), o vizinho e melhor amigo que não entende ao certo seus sentimentos de amor e amizade por Lara Jean; seja Margot (Janel Parrish), a irmã mais velha desejando o desapego da vida adulta, mas ainda muito ligada aos laços familiares e ao amor que teve de deixar para trás. Todos guardam em si a angústia de não poder compartilhar o que de fato pensam e sentem, e as cartas de desabafo jamais enviadas de Lara Jean são muito representativas nesse cenário.

Ainda que inofensivo, a nova investida da Netflix nesse filão de adaptar best-sellers adolescentes se destaca pelo cuidado da produção e escolha acertada de elenco, o que nem sempre tem sido prioridade para o gigante do streaming. Ainda que derrape na reta final, principalmente no plot desnecessário e apelativo do vídeo vazado, se mostra uma boa história de amor e comunicação. Em tempos de mensagens instantâneas e relações virtuais, é importante para o público-alvo uma história que resgate o valor romântico e pessoal de uma carta de amor escrita à mão.

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