O
pior pesadelo de qualquer adolescente acontece com Lara Jean (Lana Condor) na metade inicial de Para Todos os Garotos que Já Amei (To All the Boys I’ve Loved Before, 2018):
seus sentimentos mais íntimos e pessoais acabam expostos. Introvertida e
insegura, ela costuma desabafar esses sentimentos em cartas que escreve para os
meninos pelos quais já foi apaixonada ou ainda é. Nesse universo jovem que a Netflix adapta do best-seller homônimo
que foi sensação teen mundo afora, todas as emoções estão à flor da pele e
exprimidas em tinta e papel.
A
beleza de Para Todos os Garotos que Já
Amei está na simplicidade e sinceridade com que trata seus personagens,
principalmente a protagonista, defendida com garra pela carismática Lana Condor. Mesmo configurado dentro
dos tipos mais óbvios do universo american high school de sempre, com o grupo
de personagens populares, esquisitos, ricos, pobres, nerds etc., o filme
consegue conferir humanidade para além das tipificações e estereótipos, mesmo
que não se aprofunde muito em cada um deles. A própria Lara Jean combate um
pouco desses clichês pela escalação de uma atriz fora de qualquer padrão de
beleza e personalidade pregado pelo cinema jovem americano.
O
formato quase epistolar e confessional do material original acaba ocasionando
um inevitável problema de roteiro no processo de adaptação, com muitas
narrações em off descrevendo os sentimentos que Lara Jean confessa nas suas
cartas, e deixando pouco espaço para momentos de silêncio e reflexão, tão
necessários para o desenrolar do desenvolvimento dos personagens. Por outro
lado, a direção criativa compensa em alguns momentos inspirados que valorizam
os sentimentos dos personagens, como no plano aberto de Lara Jean chegando de
bicicleta na lanchonete, quando ela se sente mais sozinha e desesperada do que
nunca.
Como
quase todo filme do segmento, Para Todos
os Garotos que Já Amei trata em suma dos momentos de transição, da
necessidade do crescer, do desapegar, do se apaixonar, e principalmente o de
desabafar. Se temos na figura de Lara Jean uma personagem tão cheia de
dificuldades de estabelecer comunicações com as pessoas ao seu redor, o filme
faz questão de mostrar que todos os demais também compartilham desse desafio.
Seja Peter (Noah Centineo), o garoto
popular e aparentemente superficial que guarda a dificuldade de expressar as
dores do abandono paterno; seja Josh (Israel
Broussard), o vizinho e melhor amigo que não entende ao certo seus
sentimentos de amor e amizade por Lara Jean; seja Margot (Janel Parrish), a irmã mais velha desejando o desapego da vida
adulta, mas ainda muito ligada aos laços familiares e ao amor que teve de
deixar para trás. Todos guardam em si a angústia de não poder compartilhar o
que de fato pensam e sentem, e as cartas de desabafo jamais enviadas de Lara
Jean são muito representativas nesse cenário.
Ainda
que inofensivo, a nova investida da Netflix
nesse filão de adaptar best-sellers adolescentes se destaca pelo cuidado da
produção e escolha acertada de elenco, o que nem sempre tem sido prioridade
para o gigante do streaming. Ainda que derrape na reta final, principalmente no
plot desnecessário e apelativo do vídeo vazado, se mostra uma boa história de
amor e comunicação. Em tempos de mensagens instantâneas e relações virtuais, é
importante para o público-alvo uma história que resgate o valor romântico e
pessoal de uma carta de amor escrita à mão.
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