sábado, 29 de junho de 2024

Crítica | "O Dublê" com Ryan Gosling e Emily Blunt


Depois de chamar atenção do mundo com sua performance carismática de Ken, o boneco de plástico no live-action da Barbie (2023), Ryan Gosling encarou outro desafio na sua carreira: viver o personagem Colt Seavers, um dublê cheio de habilidades que conquistou o público na série Duro na Queda, sucesso dos anos 1980, e que agora volta no remake O Dublê. Na época, o herói ficou eternizado com Lee Majors e chega agora às telonas com mais sexy appeal e carisma do que nunca.

Gosling é talentoso e usa sua beleza a seu favor, sem se levar a sério demais. No filme, seu Colt é um cara divertido e alto astral que se afasta de tudo e de todos depois de sofrer uma queda e fraturar a coluna em uma cena de ação. Como dublê, ele sente que fracassou e, como homem, não consegue mais encarar a amada Judy (Emily Blunt) depois do fiasco.

Isso faz com que ele abandone o cinema e passe a trabalhar como manobrista em um restaurante local — até o dia em que uma produtora lhe oferece a chance de voltar a atuar, desta vez em um filme dirigido pela própria Judy. O problema é que o que parecia ser um enredo substituir

Mesmo com um início mais romântico do que o esperado, O Dublê não erra nas proporções e consegue dosar perfeitamente romance, comédia e ação. Isso faz com que o filme siga uma fórmula bastante simples, mas entregue tudo o que o público quer ver em cena. E ao contrário do que possa parecer, este é um grande acerto, uma vez que encontrar as medidas certas de cada gênero é um desafio que muitos diretores não conseguem cumprir.

Aqui, David Leitch (Trem-Bala) dá tempo de tela para que Colt e Judy construam química em cena por meio de diálogos engraçadinhos, típicos de quem acabou de começar um romance. Não soa bobo e dá ao filme momentos muito divertidos, como quando o dublê se isola em uma picape para sentir dor de cotovelo enquanto chora ouvindo Taylor Swift.

A comédia, aliás, é um ponto alto da trama. Ela abandona o tom pastelão e investe em trocadilhos divertidos e atuais, em piadinhas com o cinema e em personagens diferentõe,s como o cachorro que só obedece ordens em francês. Mas é a ação (claro!) que ganha o público. Usando da metalinguagem — afinal é um filme mostrando como fazer outro —, o enredo não poupa esforços (e nem dinheiro) para explodir carros, criar tomadas de perseguição, incendiar os dublês, suspender personagens em helicópteros e tudo mais que manda a cartilha.

O erro, no entanto, acontece nos efeitos especiais, principalmente nas cenas de fogo. Fica nítido que elas não são verossímeis e é neste momento em que o público se desconecta da trama.


Elenco de estrelas marca o sucesso do filme

Já quando olhamos para o elenco, fica fácil entender por que o longa é tão divertido. Além de Gosling, completam o time Stephanie Hsu (Tudo Em Todo Lugar Ao Mesmo Tempo) como a assistente pessoal de Ryder e Hannah Waddingham (Ted Lasso) como a sua produtora. Ambas acertam o timing da comédia sem muitas dificuldades.

Já Emily Blunt (Oppenheimer) é genérica demais. Apesar de carismática, ela imprime pouca personalidade à sua personagem que deveria ter mais força na trama. O filme, no entanto, compensa o público com duas participações para lá de especiais e que fazem valer ficar até o fim dos créditos.


Hollywood pelo avesso

Outro ótimo acerto de O Dublê é que ele mostra a indústria dos filmes pelo lado avesso, focando em quem faz um longa sair do papel e ganhar vida. Assim, a trama cumpre com o objetivo de Gosling e do diretor de homenagear o trabalho de tantos profissionais que se arriscam em cenas de ação, mas nunca são reconhecidos.

Uma fala do filme provoca: “existe Oscar para dublê?”. E a resposta é que “não”, já que o trabalho desses profissionais raramente é reconhecido na mídia. Ainda sobre o assunto, é importante lembrar que essa não é a primeira vez do protagonista vivendo um dublê, ele já tinha feito algo similar em Drive (2011). O diretor David Leitch também tem experiência no assunto, já que iniciou sua carreira trabalhando como um.


Sendo assim, de fato o filme fala de algo que o diretor entende e não comete erros bobos ou soa presunçoso. Além disso, é interessante ver os créditos finais do filme, que mostram como as principais cenas de ação foram gravadas e dá o devido destaque para a equipe de dublês. Da mesma forma, esses profissionais ganham muito mais destaque nos próprios créditos, sendo os primeiros nomes a aparecerem na tela e não escondidos na parte final das letrinhas que passeiam pela tela quando todo mundo está indo embora.

O Dublê é uma opção divertida para assistir com a família e certamente se firmará como um daqueles filmes que vale a pena ver de novo quando passarem na Sessão da Tarde.

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