sexta-feira, 30 de dezembro de 2022

No Doubt - “Tragic Kingdom” - 1996

 

Em 1986 nascia na Califórnia uma banda de ska formada e idealizada pelo tecladista e compositor Eric Stefani, que convidou sua irmã, Gwen Stefani e John Spence para formar um grupo inspirado em nomes do estilo festivo que anos depois teria uma curta aparição no mainstream.

Um ano depois, quando o grupo começava a chamar a atenção de pessoas envolvidas com a música, Spence se suicidou, e o No Doubt chegou a encerrar as atividades, mas reconsiderou a decisão e seguiu em frente como forma de homenagear um dos vocalistas da banda.

Entre idas e vindas, o grupo se consolidou em 1991 como um quinteto com Gwen Stefani, Eric Stefani, Tony Kanal, Tom Dumont e Adrian Young.

Assim, impressionou os chefões da recém criada Interscope Records com shows cheios de energia e uma sonoridade bastante particular, e conseguiu um contrato com a major.


O problema é que o primeiro disco do grupo, homônimo e lançado em 1992, não empolgou, e o selo não gostou do trabalho ter vendido apenas 30 mil cópias, marca baixíssima para um disco com apoio de gravadora na época, e os problemas começaram a surgir.

Eric Stefani, tecladista e fundador do grupo, começou a se afastar e eventualmente deixou a banda. Tony Kanal e Gwen Stefani terminaram seu namoro e a gravadora rejeitou boa parte do material que estaria em um próximo trabalho do grupo.

Todos os elementos pareciam estar criando caminho para que o No Doubt acabasse ali mesmo, mas em 1995 o grupo lançou por conta própria o seu segundo disco, Beacon Street Collection, e o disco vendeu o triplo do que seu antecessor, muito em função de um movimento de ska que estava explodindo com nomes como Sublime, Reel Big Fish, Less Than Jake e Mighty Mighty Bosstones.

Os números agradaram a gravadora e, com licença para o sub selo Trauma, veio então no mesmo ano a obra prima do No Doubt, o disco Tragic Kingdom.


“Tragic Kingdom”

Se antes tudo conspirava para que a banda acabasse, agora todos os elementos acabaram se reunindo para que o No Doubt fosse um dos grandes nomes do meio da década de 90.

O ska explodiu no Verão dos Estados Unidos, a banda soube misturar suas influências com traços do pop e o disco tinha até uma balada, a dolorosa e grudenta “Don’t Speak”, que falava sobre o término de Gwen Stefani e o baixista Tony Kanal.

Vale ressaltar aqui que após um longo relacionamento chegar ao fim, os dois souberam muito bem separar as coisas e continuaram com o grupo, acreditando nas suas canções. Outro problema superado foi a saída de Eric Stefani, que mesmo deixando o grupo, apareceu no álbum com colaborações de teclado e piano.

Como resultado, o álbum rendeu nada mais, nada menos do que 7 singles tocados à exaustão entre os anos de 1995 e 1998 (!) e hits como “Just A Girl”, “Spiderwebs” e “Sunday Morning”.

A turnê de divulgação do disco durou dois anos e meio e o álbum vendeu 16 milhões de cópias no mundo todo.


Singles

Os singles de Tragic Kingdom foram fundamentais para que o disco ganhasse as rádios e a MTV, principais “formadoras de opinião” na música em um período onde a Internet nem engatinhava.

O primeiro deles foi “Just A Girl”, uma bela amostra da voz espetacular de Gwen Stefani com um riff de guitarra marcante e afastamento do ska que caracterizou o grupo.


Foi em momentos assim que o No Doubt aprendeu que para superar todas as suas dificuldades teria que incorporar mais elementos que tornassem o seu som acessível ao mesmo tempo que se baseava nas raízes que deram origem à banda.

Spiderwebs”, segundo single, tem a assinatura da banda e foi com “Don’t Speak”, na sequência, que o No Doubt tornou-se “banda de rock” na visão do público em geral.


Nome e Arte

A banda de Anaheim, na Califórnia, fez um trocadilho com o “Magic Kingdom” da Disneyland, que fica na cidade, com o nome de seu disco, Tragic Kingdom.

Além da brincadeira ter dado certo, a capa emblemática com Gwen Stefani e seu vestido vermelho, além das menções ao Orange County de onde vem o grupo, fizeram um pacotão mais do que interessante para que as pessoas tivessem curiosidade em relação à “nova” banda.

Com 14 faixas, sendo metade delas singles, o álbum é bastante coeso e cheio de conteúdo. Todas elas formam um conjunto interessante que só peca na duração: Tragic Kingdom tem quase 60 minutos e poderia ter se desfeito de duas ou três canções para ser ainda mais interessante.


Legado

O disco tornou-se ícone de um período dos anos 90 em que o ska invadiu a MTV durante o Verão e as gravadoras lançaram diversas bandas do gênero.

Apesar do estilo ter sido rapidamente descartado pelas majors, ganhou força no underground e o chamado ska/punk tornou-se um dos movimentos favoritos dos adolescentes.


Tragic Kingdom
está na lista dos 500 melhores discos de todos os tempos da Rolling Stone na posição número 441, foi indicado a dois prêmios Grammy e atingiu o topo das paradas na Bélgica, Canadá, Finlândia, Irlanda, Noruega e Estados Unidos.

Só em seu país de origem, o grupo vendeu 10 milhões de cópias de um álbum que nasceu após uma série de porradas, com uma história inspiradora que serve para alegrar o dia de muita banda em início de carreira.

Tragic Kingdom foi lançado em 10 de Outubro de 1995.

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