Em
1986 nascia na Califórnia uma banda de ska formada e idealizada pelo tecladista
e compositor Eric Stefani, que convidou sua irmã, Gwen Stefani e John
Spence para formar um grupo inspirado em nomes do estilo festivo que anos
depois teria uma curta aparição no mainstream.
Um
ano depois, quando o grupo começava a chamar a atenção de pessoas envolvidas
com a música, Spence se suicidou, e o No Doubt chegou a encerrar as
atividades, mas reconsiderou a decisão e seguiu em frente como forma de
homenagear um dos vocalistas da banda.
Entre
idas e vindas, o grupo se consolidou em 1991 como um quinteto com Gwen
Stefani, Eric Stefani, Tony Kanal, Tom Dumont e Adrian
Young.
Assim,
impressionou os chefões da recém criada Interscope Records com shows
cheios de energia e uma sonoridade bastante particular, e conseguiu um contrato
com a major.
O problema é que o primeiro disco do grupo, homônimo e lançado em 1992, não empolgou, e o selo não gostou do trabalho ter vendido apenas 30 mil cópias, marca baixíssima para um disco com apoio de gravadora na época, e os problemas começaram a surgir.
Eric
Stefani, tecladista e fundador do
grupo, começou a se afastar e eventualmente deixou a banda. Tony Kanal e
Gwen Stefani terminaram seu namoro e a gravadora rejeitou boa parte do
material que estaria em um próximo trabalho do grupo.
Todos
os elementos pareciam estar criando caminho para que o No Doubt acabasse
ali mesmo, mas em 1995 o grupo lançou por conta própria o seu segundo disco, Beacon
Street Collection, e o disco vendeu o triplo do que seu antecessor, muito
em função de um movimento de ska que estava explodindo com nomes como Sublime,
Reel Big Fish, Less Than Jake e Mighty Mighty Bosstones.
Os
números agradaram a gravadora e, com licença para o sub selo Trauma,
veio então no mesmo ano a obra prima do No Doubt, o disco Tragic
Kingdom.
“Tragic Kingdom”
Se
antes tudo conspirava para que a banda acabasse, agora todos os elementos
acabaram se reunindo para que o No Doubt fosse um dos grandes nomes do
meio da década de 90.
O
ska explodiu no Verão dos Estados Unidos, a banda soube misturar suas influências
com traços do pop e o disco tinha até uma balada, a dolorosa e grudenta “Don’t
Speak”, que falava sobre o término de Gwen Stefani e o baixista Tony
Kanal.
Vale
ressaltar aqui que após um longo relacionamento chegar ao fim, os dois souberam
muito bem separar as coisas e continuaram com o grupo, acreditando nas suas
canções. Outro problema superado foi a saída de Eric Stefani, que mesmo
deixando o grupo, apareceu no álbum com colaborações de teclado e piano.
Como
resultado, o álbum rendeu nada mais, nada menos do que 7 singles tocados à
exaustão entre os anos de 1995 e 1998 (!) e hits como “Just A Girl”, “Spiderwebs”
e “Sunday Morning”.
A
turnê de divulgação do disco durou dois anos e meio e o álbum vendeu 16 milhões
de cópias no mundo todo.
Singles
Os
singles de Tragic Kingdom foram fundamentais para que o disco ganhasse
as rádios e a MTV, principais “formadoras de opinião” na música
em um período onde a Internet nem engatinhava.
O
primeiro deles foi “Just A Girl”, uma bela amostra da voz espetacular de Gwen
Stefani com um riff de guitarra marcante e afastamento do ska que caracterizou
o grupo.
Foi em momentos assim que o No Doubt aprendeu que para superar todas as suas dificuldades teria que incorporar mais elementos que tornassem o seu som acessível ao mesmo tempo que se baseava nas raízes que deram origem à banda.
“Spiderwebs”,
segundo single, tem a assinatura da banda e foi com “Don’t Speak”, na
sequência, que o No Doubt tornou-se “banda de rock” na visão do
público em geral.
Nome e Arte
A
banda de Anaheim, na Califórnia, fez um trocadilho com o “Magic Kingdom”
da Disneyland, que fica na cidade, com o nome de seu disco, Tragic
Kingdom.
Além
da brincadeira ter dado certo, a capa emblemática com Gwen Stefani e seu
vestido vermelho, além das menções ao Orange County de onde vem o grupo,
fizeram um pacotão mais do que interessante para que as pessoas tivessem
curiosidade em relação à “nova” banda.
Com
14 faixas, sendo metade delas singles, o álbum é bastante coeso e cheio de
conteúdo. Todas elas formam um conjunto interessante que só peca na duração: Tragic
Kingdom tem quase 60 minutos e poderia ter se desfeito de duas ou três
canções para ser ainda mais interessante.
Legado
O
disco tornou-se ícone de um período dos anos 90 em que o ska invadiu a MTV
durante o Verão e as gravadoras lançaram diversas bandas do gênero.
Apesar
do estilo ter sido rapidamente descartado pelas majors, ganhou força no
underground e o chamado ska/punk tornou-se um dos movimentos favoritos dos
adolescentes.
Tragic Kingdom está na lista dos 500 melhores discos de todos os tempos da Rolling Stone na posição número 441, foi indicado a dois prêmios Grammy e atingiu o topo das paradas na Bélgica, Canadá, Finlândia, Irlanda, Noruega e Estados Unidos.
Só
em seu país de origem, o grupo vendeu 10 milhões de cópias de um álbum que
nasceu após uma série de porradas, com uma história inspiradora que serve para
alegrar o dia de muita banda em início de carreira.
Tragic
Kingdom foi lançado em 10 de
Outubro de 1995.