quinta-feira, 28 de novembro de 2024

Crítica: Gwen Stefani, “Bouquet”

Gwen Stefani apresenta em “Bouquet” um esforço artístico que mistura flores como metáfora e música como uma tentativa de renascimento. É seu primeiro álbum em sete anos, e o contraste entre o conceito elaborado e a execução musical levanta questões sobre sua posição no pop. Com influências que vão do reggae e ska ao yacht rock, o disco reflete uma artista que procura se reconectar com as raízes enquanto experimenta um território novo, mas tropeça na falta de ousadia.

Desde “Somebody Else’s”, o álbum sugere uma estética baseada no confortável. A faixa, um country pop rock temperado com clichês sobre desgosto e resiliência, não é memorável o suficiente para competir com os grandes hinos do gênero, nem inventiva para marcar presença. Gwen parece apostar em uma fórmula segura, mas sem o brilho de outrora. Se no passado ela era líder de tendências, alguém que redefinia o que era possível na música pop , aqui ela soa como uma seguidora tentando agradar múltiplos públicos, sem encontrar seu verdadeiro eixo criativo.

A promessa de um retorno às influências do reggae e do ska, anunciada antes do lançamento, desperta expectativas que raramente são cumpridas no álbum. “Marigolds” e “Empty Vase”, por exemplo, trazem resquícios desses gêneros, mas diluídos em produções que soam como caricaturas de si mesmas. As letras, que poderiam ser o ponto de redenção, oscilam entre o sentimentalismo genérico e tentativas mornas de profundidade.

Entretanto, “Purple Irises”, o dueto com Blake Shelton, merece destaque por sua delicadeza. A química entre os dois é inegável, e a canção funciona como um raro momento onde o tom floral do álbum parece mais genuíno. Ainda assim, essa faixa não é suficiente para carregar o peso de um disco que prometia mais do que entregou.

Os temas de cura, transição e nostalgia, inspirados em sua infância e nos sucessos pop dos anos 70, tinham potencial para criar um álbum maduro e reflexivo. Contudo, o excesso de dependência em fórmulas previsíveis e a falta de um fio condutor claro fazem com que “Bouquet” perca força como um todo. Mesmo as referências ao passado como o toque de No Doubt em “Let Me Reintroduce Myself” soam deslocadas, mais como ecos do que declarações autênticas.

O que falta em “Bouquet” não é só inovação, mas também paixão. Gwen Stefani, que um dia foi um ícone de originalidade, aqui parece mais interessada em agradar do que em desafiar. É um álbum que tenta muitas coisas, mas entrega poucas, um buquê bonito, mas sem perfume.